Um longo caminho percorrido

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Há uns dias atrás, eu recebo em casa a edição em Blu-Ray do filme “The Rock”, lançado nos cinemas em 1996 e que teve versões distintas em laserdisc, DVD e agora Blu-Ray. Ao colocar o filme para tocar, eu me dou conta do longo caminho que os entusiastas ou hobbyistas de home theater percorreram, para chegar ao ponto de ver um filme como este em toda a sua plenitude de qualidade técnica!

“The Rock” foi lançado em laserdisc lá por 1997, já com uma trilha sonora em Dolby Digital 5.1, e depois numa versão com trilha DTS. A transcrição da imagem, é claro, seguiu os padrões da época: master analógica, relação de aspecto a 2.35:1 (widescreen), mas enclausurada numa tela 4:3. Aliás, não havia porque ser diferente, porque eu não me lembro de ter visto telas 16:9 no mercado nesta época.

O que é estranho, entretanto, é que, apesar das transcrições para laserdisc terem evoluído significativamente nos últimos anos da sua popularidade no high-end de vídeo, elas se mostraram inadequadas para as modificações propostas para o formato, entre elas, a transcrição em vídeo anamórfico, e no entanto muitos estúdios não se furtaram de usá-las para fabricar DVD.

Em casos extremos, como aconteceu em selos brasileiros cujo nome prefiro não declinar, foi o laserdisc comercial, e não a sua fita master, a fonte para lançar edições de DVD de qualidade duvidosa.

E de fato, quando o DVD da Buena Vista do filme saiu, a fita master do laserdisc foi descaradamente aproveitada, e aí, amigos leitores, aconteceu a autêntica tragédia anunciada. No início, mascarada pela ausência de telas 16:9 e de tamanhos maiores, a não ser as de projeção, o DVD passou incólume.

Mas, depois a reprodução do mesmo se tornou inaceitável. Aliás, os proponentes de campanha a favor do vídeo 16:9 e contra as transcrições letterbox 4:3 tinham um lema, e com toda a razão, que dizia “Clear Today But Not Tomorrow“, como ainda nos mostra esta página do The Cinema Laser.

Talvez por causa disso mesmo, a Criterion relançou “The Rock” em DVD anamórfico, segundo dizem, de muito boa qualidade, e eu acredito. Porém, se alguém hoje em dia dispõe de um leitor de Blu-Ray, vai querer gastar cerca de trinta dólares por um DVD melhorado, ao invés de vinte e dois por uma edição em alta definição? Creio que não!

E em que aspectos o salto de qualidade se torna evidente? Primeiramente, no aspecto da definição, como seria de se esperar, é claro, mas principalmente pelo fato de que a fotografia original é de alto contraste, e isto aumenta as chances de se obliterar o chamado “low-level detail”, que são pequenas informações de imagens fotográficas “escondidas” em detalhes contidos, no caso, entre zonas claras e escuras do fotograma.

Em segundo, a fidedignidade da cor final obtida, e é preciso enfatizar que a cor pode ser influenciada por ajustes diversos, como contraste e brilho, gama, etc., e na observação de planos gerais (tomadas de câmera à distância), ao ar livre, é possível se ter uma noção do equilíbrio da reprodução de cores.

Em cenas onde o diretor abusa do primeiro plano, como em tomadas com close-ups mais ousados, aí então é que a ausência de distorção de cor se torna ainda mais evidente. E no caso de “The Rock”, o que não falta é tomada em primeiro plano, por incrível que pareça, porque se trata de um filme de ação. Nas cenas em que a câmera treme propositalmente, para enfatizar o ritmo, a versão em Blu-Ray dá um show de qualidade, a gente nem acredita no que está vendo.

E embora possa haver, aqui e ali, alguns comentários dizendo que o filme ainda padece de artefatos digitais, como edge enhancement (filtragem de alta freqüência para enfatizar bordas) ou “ringing” (oscilação da imagem), eu sinceramente não vi nenhum! Vai ver que a minha TV filtrou tudo!

?The Rock? foi dirigido pelo extrovertido diretor Michael Bay, o qual recentemente andou chiando, com toda a razão, de que seu último filme Transformers não iria sair em edição Blu-Ray, nos Estados Unidos (saiu, entretanto, na Europa), por teimosia da Paramount. Eu imagino que o nosso bom Michael deva ter gostado da edição de ?The Rock?. O vídeo é transcrito em AVC, em disco dual layer (50 Gbytes), enquanto que, na parte de áudio, a Buena Vista nos brinda, para variar, com a opção de reprodução em LPCM 5.1, que passa ao largo das já excelentes trilhas em Dolby e DTS do DVD.

Infelizmente, a realidade do colecionador e do cinéfilo que resolveu adotar o home theater como forma de substituir as idas para cinematecas ou salas de arte, é essa mesma: a de vender ou doar títulos com transcrição inferior, para outros de melhor qualidade. Isto aconteceu na transição do laserdisc para o DVD, do DVD 4:3 letterbox para 16:9 anamórfico, e agora vai acontecer do DVD para os discos Blu-Ray!

Em todos esses eventos, foi a qualidade da imagem quem mais pesou na decisão de trocar os discos. E, justiça seja feita, nunca chegou a ser um investimento jogado fora, embora eu reconheça que se trata, em última análise, de uma injustiça cometida contra o consumidor. Mas esta injustiça não é muito diferente daquela cometida quando se vende a “última versão do sistema operacional mais moderno” ou da nova CPU que vai finalmente resolver todos os problemas de lentidão dos microcomputadores.

O que nos consola agora, de certa maneira, é o fato da alta definição ter sido criada com a fotografia 35 mm de cinema em mente. Não há, que eu tenha visto, nenhum sinal até agora de que a definição obtida por qualquer um dos codecs usados, até mesmo o detratado MPEG-2 HD, que não reflita uma transcrição íntegra da fotografia original obtida no negativo da câmera.

É claro que, por uma série de motivos, um ou outro disco, Blu-Ray ou HD-DVD, pode não refletir ainda esta qualidade, mas se levarmos em consideração que os processos de filmagem variam tremendamente, nenhuma análise a este respeito pode ser totalmente conclusiva. E o maior exemplo disso são os negativos com um grão fotográfico mais grosseiro, usado para exposição em baixas condições de luminosidade ambiente. Eu leio muita gente reclamar de ruído ou grão nas imagens, inclusive em Blu-Ray, mas isto não é necessariamente sinônimo de alguma limitação, seja da mídia, seja da autoração.

Eu vou mais além: eu acredito que, como todo formato novo, um longo caminho também será percorrido, até que todo o potencial e recursos sejam devidamente explorados. No caso do Blu-Ray, o único erro de transcrição que me chamou a atenção recentemente foi a primeira edição do filme “O quinto elemento”, relatada na internet faz algum tempo, mas a Sony Pictures se encarregou de substituir os discos de quem comprou esta edição.

A nova, eu vi na casa de um amigo, está perfeita. Note-se que se trata de um filme cujas duas primeiras versões em DVD se tornaram referência para ajustes e avaliação de qualidade de vídeo nos displays atuais, inclusive retro projetores!

Eu tenho dito, repetidas vezes, nos meus artigos mais recentes, que as mídias de alta definição estão trazendo melhoramentos não tão óbvios, e certamente nunca muito evidentes para o usuário desavisado. E dentre esses, a gente encontra novos formatos de áudio com uma qualidade de cair o queixo. Se o leitor é como eu, incapaz de montar caixas esotéricas ou processadores e receivers super caros, poderá se sentir depauperado na hora de ouvir corretamente as novas trilhas sonoras, mas na prática, não é isto que acontece.

Na realidade, qualquer um munido de um receiver de qualidade razoável, um subwoofer decente, e caixas acústicas com um mínimo de equilíbrio, pode perceber a pureza e a dinâmica dessas trilhas novas.

Eu pessoalmente me sinto constantemente impressionado com duas delas: as com Dolby TrueHD e as com LPCM multicanal. E não adianta alguém argumentar comigo que a gente ainda não está ouvindo Dolby ou DTS sem compressão, a não ser através das respectivas conversões a LPCM, porque a qualidade do que se ouve agora é bastante evidente.

Foi a própria Dolby quem nos chamou a atenção para o fato de que os processadores atuais dos aparelhos Blu-Ray ou HD-DVD são capazes de trabalhar os novos codecs em ambiente PCM, facilitando assim a saída deste sinal, sem nenhuma perda mensurável. Se o futuro reprodutor de Blu-Ray melhorar isso ainda mais, eu vou ficar bastante surpreso! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Não, não estou brincando não!

    Até o mais ardoroso defensor das mídias por memória, se pensasse um pouco e fosse honesto consigo próprio, reconheceria que existem uma série de aspectos técnicos que não são possíveis de serem contornados, só porque você está mudando a mídia. Se fosse assim, a gente não estava na Internet anos a fio discutindo esta agora derrocada do HD-DVD.

    O problema é muito mais complexo que imagina a vã filosofia daqueles que defendem os iPods da vida, e ontem mesmo eu fiz questão cerrada de dizer a um grande amigo meu, que ao contrário da minha pessoa, é um expert em eletrônica e estúdios de gravação, que eu não sou contra o progresso da eletrônica, pelo contrário!

    A questão é se a gente quer ser realista ou entrar na realidade do que existe de concreto por aí. E neste momento, meu amigo, o que existe de concreto é o formato Blu-Ray. A Sony já sabia disso anos atrás, e enganam-se aqueles que pensam que o Blu-Ray surgiu do nada. E foi por isso que um monte de parceiros de indústria apareceram ao longo do caminho, e queiram ou não os defensores da mídia de memória, ele caminha indefectivelmente para ocupar o seu espaço no mercado (vide decisão recente da Warner, abandonando o HD-DVD).

    Esta estória de mídia por memória, por enquanto, é muito interessante para quem gosta de MP3 e não está nem aí para qualidade de qualquer coisa. O resto da humanidade que se interessa pelo hobby quer saber se a mídia que ele escolheu vai cumprir os bitrates que prometeu!

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