As alterações dos formatos de áudio nos home theaters

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Depois de alguns anos freqüentando o Home Theater Forum, discutindo basicamente só áudio, e de ter saído dali para o Home Theater Talk, por causa do mesmo assunto, eu ainda hoje percebo que nada nesta área está devidamente esclarecido.

A confusão que reinava naquela época (circa 1996) não era somente sobre o uso e a colocação de caixas acústicas, era também sobre as mixagens originais de filmes transferidos com uma modificação radical da mixagem original, sobre os protestos de grande parte da comunidade em torno do hobby.

E de fato, no início da era do DVD, alguns estúdios menores estavam abusando do usuário, com a mixagem de som original mono em cinco canais, e com o LFE permanentemente ligado, ou seja, um mar de distorção sem que nada que se pudesse fazer em casa serviria para contornar o problema.

É preciso que se diga que eu tive a chance de pegar o Home Theater Forum bem no início, ainda com uma meia-dúzia de pessoas, a maioria de muito bom nível, educação e respeito recíproco, de tal forma que era possível se colocar dúvidas e acertos, com a compreensão e participação de todos, e assim as discussões ficarem restritas a trocas de opiniões, erros e conquistas.

Eu acho que eu e mais alguns usuários levávamos alguma vantagem em certos tópicos, por termos estudado cinema. Se isso não nos ajudava com relação a codecs de áudio mais recentes, pelo menos nos ajudava em entender que modificações estavam sendo feitas, a partir de filmes mais antigos, para formatos de áudio digital mais modernos.

Infelizmente, com o passar do tempo, o Home Theater Forum ganhou fama e cresceu, quando aí começaram a participar todo o tipo de gente. O ambiente familiar se foi, junto com ele a troca generosa de opiniões e muitos bons usuários também. As discussões começaram a ficar ásperas e os insultos proliferaram. O dono do fórum tentou amenizar o desastre, colocando moderadores, mas estes se investiram no papel de patrulhamento de forma radical, e tudo acabou numa situação, que tirou o foco da discussão da coisa técnica para a coisa pessoal, ou seja, se tornou uma tremenda perda de tempo!

E, para agravar tudo isso, pessoas ligadas a empresas do ramo começaram a forjar a formação de opinião, na forma de comentários, colocando ideias e conceitos de forma subjacente, e isso para mim e para vários outros foi a gota d’água.

A tecnologia é um fardo pesado, para quem não é formado nesta área. O objetivo dos primeiros fóruns era de cavar informações e discutir experiências e resultados, entre participantes leigos. O Home Theater Talk foi criado por um ex-membro do HTF, na tentativa de resgatar este objetivo, mas acabou sufocado pelos mesmos problemas de disciplina e infiltração de penetras do comércio e eventualmente fechou as portas.

Compartilhar conhecimento em vez de discuti-los

Eu não tenho dúvida de que a minha ausência do ambiente dos fóruns, que já dura mais de oito anos, me forçou a amadurecer neste hobby, e me tornar autodidata nas coisas que eu não aprendi, sobre assuntos fora da minha área.

Como a vida é um eterno aprendizado, um hobby deste tipo não morre. O que acontece é que muitos chegam nele mais tarde, em relação aos avanços vigentes, e são obrigados a passar pelas mesmas dúvidas e incertezas que a gente passou, mais de uma década atrás.

Eu atribuo a isso, especificamente, a constatação que eu ainda tenho, lendo mensagens por vários sites da Internet, de que uma boa parte desta tecnologia ainda precisa ser descoberta. E sendo assim, mal não há em se tentar aparar um pouco as arestas, ainda que de forma provisória e temporal. Se o compartilhamento de experiência e conhecimento beneficia alguém, então parte da nossa atuação no hobby, pelo que me concerne, estará preenchida.

O som do cinema teve compasso muito diferente do som da mídia de um home theater

Quando se instala um home theater em casa, o que se espera é que ele simule o cinema exatamente com ele o é nas salas de exibição, mas isso nem sempre ocorre como esperado.

O que no passado deixou muitos usuários confusos, a respeito das trilhas sonoras em mídias de home video, é que a evolução técnica do som no cinema precedeu as primeiras dessas mídias.

Para se ter noção disso, basta dizer que o som estereofônico multicanal no cinema tomou grande impulso na década de 1950, mas a primeira mídia de vídeo doméstica capaz de reproduzir som estereofônico de apenas dois canais só foi aparecer mais de vinte anos depois!

E se a mídia doméstica ainda chegou a ter quatro canais de áudio algum tempo depois, foi por puro acidente de percurso: com a morte iminente do som multicanal magnético nas cópias de 35 mm, os laboratórios Dolby modificaram a banda ótica para conter dois canais contendo os sinais necessários para se poder desdobrá-los em um canal central e um surround.

No cinema, este processo chamou-se “Dolby Motion Picture” (nas telas com o nome de “Dolby Stereo”) e na mídia doméstica de “Dolby Surround”.

Essas informações adicionais, chamadas tecnicamente de Left total (Lt) e Right total (Rt), são preservadas, quando a trilha sonora é transferida de um meio para o outro. Assim, as primeiras mídias domésticas de dois canais estereofônicos poderiam ter o som desdobrado em quatro, uma vez que o usuário o processasse através de um decodificador.

Os primeiros decodificadores para o Dolby Surround eram passivos e construídos através de uma malha de filtros.

A ausência de um canal central era suprida pela reprodução de sons totalmente em fase entre os canais esquerdo e direito, colocando o sinal entre uma caixa e outra. A isso se deu o nome de “canal fantasma” (do inglês, “phantom channel”), e é um recurso ainda previsto até mesmo nos receivers e processadores mais modernos.

Com o passar do tempo, o processamento de sinal começou a ser feito por um circuito integrado, batizado com o nome de “ProLogic”. Daí se derivou o termo “Dolby ProLogic”, em substituição ao termo “Dolby Surround”, embora o formato seja rigorosamente o mesmo.

O ProLogic faz um tratamento ativo, ao invés de passivo, o que permite uma separação e uma fidelidade superiores aos circuitos Surround anteriores. Mais recentemente, processadores mais avançados, do tipo II ou IIx, estenderam os quatro canais originais a cinco ou seis canais, pelo aumento da dispersão original nas caixas traseiras instaladas.

Cronologia

A maior parte do som produzido no cinema é mono! Na década de 1930, porém, as primeiras experimentações, no laboratório da Bell, nos Estados Unidos, levaram eventualmente os estúdios Disney a experimentar um processo multicanal com o nome de Fantasound, já descrito nesta coluna.

O som mono continuou dominando, embora vários estúdios tenham gravado as suas matrizes em múltiplos canais. Foram essas matrizes, diga-se de passagem, que possibilitaram que versões modernas em DVD e Blu-Ray de filmes antigos nos mostrassem um trabalho de estúdio nunca antes revelado!

A partir do Cinerama, em 1952, o som multicanal tomou impulso, com a participação de sete canais, e depois adaptado em seis canais, para facilitar a instalação em alguns cinemas.

O formato de seis canais continuou a ser usado nas películas em 70 mm (Todd-AO, etc.), mas sofreu uma redução para quatro canais, com a introdução do CinemaScope, em 35 mm. Inicialmente, o som no cinema era reproduzido em carretel separado, contendo as sete ou seis faixas magnéticas.

Posteriormente, as seis faixas foram incorporadas aos filmes em 70 mm, e já no filme em CinemaScope as faixas magnéticas, agora em número de quatro, continuaram a ser gravadas na própria película. Isto facilitou a construção dos projetores, com a incorporação das cabeças de leitura na parte superior do projetor, para 70 mm, 35 mm ou ambos.

A evolução aproximada da gravação e reprodução do áudio no cinema é mostrada na tabela a seguir:

Formato

Período estimado de uso

Bitola

Número de canais (mídia)

Vitaphone

1926-1930

35 mm

Mono (disco)

Phonofilm

1923-1929

35 mm

Mono (ótica)

Tobis-Klangfilm

1929-?

35 mm

Mono (ótica)

Movietone

1926-?

35 mm

Mono (ótica)

Photophone

1925-?

35 mm

Mono (ótica)

Fantasound

1940

35 mm

6 (ótica)

Cinerama

1952-1962

35 mm

7 (magnética)

CinemaScope

1952-1967

35 mm

4 (magnética)

CinemaScope 55

1953-1957

55 mm

4 (magnética)

Todd-AO

1955-1992

70 mm

6 (magnética)

Dolby Stereo

1975-presente

35/70 mm

4/6 (ótica/mag.)

Ultra-Stereo

1984-presente

35/70 mm

4/6 (ótica/mag.)

Dolby SR

1986-presente

35/70 mm

4/6 (ótica/mag.)

CDS

1990-1991

35/70 mm

5.1 PCM (ótica)

Dolby Digital

1992-presente

35/70 mm

5.1 AC-3 (ótica)

DTS

1993-presente

35/70 mm

5.1 DTS (disco)

SDDS

1993-presente

35/70 mm

7.1 ATRAC (ótica)

A lista acima está longe de ser completa, mas dá uma idéia razoável da evolução do som no cinema. No que concerne ao formato de áudio desenvolvido pela Dolby, o som analógico termina com a inserção do Dolby Spectral Recording (Dolby SR), e logo após atravessa um período de transição, com as cópias em AC-3 (Dolby Digital) sendo preparadas pelo processo Dolby SR.

Em 1992, o som Dolby Digital 5.1 foi lançado nos cinemas através do filme “Batman Returns”, da Warner Brothers, e no ano seguinte, a Universal Pictures lançou “Jurassic Park”, em DTS 5.1 gravado em um CD-ROM, sincronizado à película por um time-code ótico. Ainda em 1993, a Sony Pictures lançou “Last Action Hero”, em SDDS. Os cinemas não adaptados para estes formatos reproduziram som em Dolby Stereo e foi assim durante muitos anos!

O descompasso dentro de casa

Na expressão “home theater”, a palavra “theater” se refere às instalações de cinema dentro de casa, mas não necessariamente com o uso de um equipamento de vídeo. Historicamente, o uso de película em casa sempre foi oneroso e colecionar filmes, 35 ou 16 mm, um hábito proibitivo. Por conta disso, o aparecimento da imagem em vídeo tomou impulso na década de 1970, mas não o suficiente para tornar um home theater uma realidade para a maioria das pessoas.

Os primeiros trabalhos em mídia de vídeo começaram com o videodisco, na década de 1960. Esses trabalhos foram originados de duas vertentes principais: uma delas, tentando perpetuar a condição de leitura de informação por agulha, do disco analógico (Lp), e a outra, já incorporando métodos de leitura ótica.

A principal propulsora do videodisco com leitura por agulha foi a RCA, com o nome de SelectaVision. A tecnologia no qual ele se baseia, chamada de Capacitance Electronic Disc (CED), começou a ser desenvolvida já em 1964, mas foi somente em 1978 que a empresa conseguiu produzir o primeiro protótipo.

Todos os métodos tradicionalmente usados para a duplicação de discos fonográficos provaram-se inadequados para o videodisco. Diversas modificações nos níveis de matrizes e moldes tiveram que ser feitas, até que o videodisco tocasse sem problemas e fosse durável. A empresa colocou o disco CED num caddy (espécie de caixa protetora na forma de uma gaveta), para evitar danos à superfície do mesmo.

Em 1981, o primeiro lote de discos CED começou a ser vendido nos Estados Unidos, e em Maio do ano seguinte, lançado o primeiro disco com som estéreo de dois canais. A comercialização do CED, entretanto, não passou muito além das portas dos lares americanos. Depois de problemas financeiros incontornáveis, a RCA parou a produção desses discos, em 1984, completamente.

O videodisco com leitura ótica teve origem e destinos diferentes: pesquisas feitas em laboratórios separados levaram eventualmente a um joint-venture, que permitiu que o produto fosse lançado com sucesso.

A tecnologia de leitura ótica em discos foi inventada por David Paul Gregg em 1958, que criou o método por disco transparente. Em 1961, a MCA comprou as suas patentes e ajudou a desenvolvê-las, posteriormente fabricando o videodisco ótico com o nome de DiscoVision.

Em 1969, entretanto, a Philips holandesa viu frutificados os seus esforços no desenvolvimento do videodisco ótico refletivo, com leitura a raio laser. O disco refletivo, usado depois como base para a fabricação do Compact Disc e do DVD, tem inúmeras vantagens sobre o disco ótico transparente. O consórcio formado pela MCA e pela Philips lançou o primeiro DiscoVision em 1972.

O sucesso técnico do DiscoVision, superior ao SelectaVision, foi, porém, cercado de problemas. A prensagem dos discos, por exemplo, tinha um taxa de rejeição muito alta, o que encarecia o custo de fabricação dos mesmos.

A mídia era vulnerável à oxidação, o que tornava o disco ilegível depois de certo tempo. Esse problema ficou conhecido na comunidade de usuários como “laser rot” (rot, do inglês, apodrecimento): no início, a imagem começava a apresentar ruído, geralmente na forma de barras brancas, o som ficava intermitente, e depois o leitor não reproduzia mais nada.

O custo alto de fabricação e vendas no varejo levou MCA e Philips a suspenderem as vendas do DiscoVision, mas no final da década de 1970, a Pioneer assumiu o controle de fabricação e a venda dos discos, com o nome comercial de Laserdisc, mais conhecido como LD. A Philips, entretanto, seguiu adiante com o projeto do Compact Disc, lançado no final de 1982, no mercado norte-americano.

O laserdisc evoluiu muito até o meio da década de 1990: do início com imagem e som analógicos, ele chegou a ser dotado de trilha sonora em PCM estéreo e depois em Dolby Digital e DTS, ambos em formato 5.1. A imagem também foi alvo de requintes da evolução dos telecines, no início da década de 1990, e até se chegou a fabricar discos com imagem anamórfica, antes do aparecimento do DVD, em 1995.

A tecnologia original do videodisco com leitura a laser possibilitou avanços nesta área, que duram até hoje. Foram lições aprendidas com problemas de manufatura e durabilidade, somados à evolução natural da microinformática, que acabou resultando em produtos como o CD, o DVD e agora o Blu-Ray.

Da mesma forma como o SelectaVision, o Laserdisc não encontrou o mercado de massa, que o permitiria ficar como produto de referência em vídeo doméstico. Em parte, o problema foi o alto custo do equipamento e da mídia, mas em larga escala foi que o seu principal concorrente, a fita magnética de vídeo, permitia fazer o que nenhum dos discos conseguira: gravar imagens!

Ascensão e glória dos gravadores de vídeo

Para quem dia usou um videodisco, a imagem e som de um videocassete eram considerados inaceitáveis. Porém, o apelo do relativo baixo custo e a possibilidade de gravar do ar, foi o suficiente para tornar o videocassete um produto genuíno de massa!

Das fitas de vídeo de enormes proporções para o videocassete foi um pulo. Baseado no enorme sucesso do Compact Cassete da Philips, o videocassete trazia o videotape para dentro de casa! E foi a própria Philips quem iniciou este processo, em 1972. Mas o primeiro produto de sucesso no mercado de videocassetes foi o Betamax, da Sony.

Neste segmento de mercado, a guerra dos formatos e as brigas proliferaram. Duas delas envolveram a Sony e o Betamax: a primeira, com o processo na justiça americana, conhecido pelo nome de “o caso Betamax”.

Nele, os estúdios Universal e Disney acusaram a primeira de facilitar a cópia ilegal de programas por usuários domésticos. Se alguém hoje quiser saber da onde saíram as gritarias contra cópia ilegais de material de cinema, é só ler o caso Betamax! Na época, os estúdios perderam, mas a vingança veio mais tarde, com a proibição de cópia de material digital, o famigerado DRM.

Na segunda disputa, a Sony resolveu dificultar a licença para fabricação dos gravadores Betamax. O resultado disso é que os outros fabricantes se uniram em torno de outro formato, o Video Home System, o VHS, produto de arquitetura aberta, e que acabou com o mercado da Sony, eventualmente.

É interessante notar que o mercado de home vídeo de massa sempre correu atrás do produto mais barato, e jamais o de melhor qualidade.

O Betamax tinha melhor imagem e foi o primeiro videocassete a desenvolver o sistema de áudio Hi-Fi, de alta fidelidade. O formato VHS respondeu algum tempo depois, criando o VHS Hi-Fi, o Super VHS e tempos maiores de gravação, mas as vendas não foram as mesmas.

Nenhum desses melhoramentos foi suficiente para salvar o videocassete das garras do DVD. De início, o grande público olhou para o DVD como o sucessor do videodisco, e por isso com uma enorme desconfiança. Esta desconfiança ainda seria agravada com a não adesão de alguns estúdios americanos, como Disney e Paramount, que continuaram a fazer videodiscos para a mesma parcela mais exigente do mercado de vídeo doméstico.

Porém, uma vez aprendida a lição de custo alto com o laserdisc, o DVD entrou direto na faixa de preço do mercado de massa, com som e imagem digitais, evoluindo até o Blu-Ray, como o conhecemos hoje.

O resumo das principais mídias domésticas de vídeo, comercializadas nas últimas décadas é visto na tabela a seguir:

Formato

Mídia

Áudio

Capacidade

Videocassete

Fita magnética

Analógico: mono, estéreo (Dolby B), estéreo (AFM*)

Mono,

Dolby Stereo

SelectaVision

Videodisco

Analógico: mono, estéreo

Mono,

Dolby Stereo

DiscoVision

Videodisco

Analógico: mono, estéreo

Mono,

Dolby Stereo

Laserdisc

Videodisco

Analógico: mono, estéreo (CX**)

Digital: PCM, Dolby Digital e DTS

Mono, Dolby Stereo, Dolby e DTS 5.1

DVD

Videodisco

Digital: PCM, Dolby Digital e DTS

Mono, Dolby Stereo, Dolby e DTS 6.1

* AFM = Audio Frequency Modulation (Hi-Fi).

** CX = Compatible Expansion (redutor de ruído da CBS, usado também em Lps).

Equiparação de formatos

Até o advento dos primeiros videodiscos com som digital, somente trilhas em Dolby Stereo poderiam servir de base para a reprodução de filmes em 4 canais. Isto pode incluir, no máximo, filmes originados rodados em CinemaScope e assemelhados.

Com a entrada de som digital no videodisco, os estúdios preferiram investir em trilhas 5.1 direto, embora o padrão AC-3 (Dolby Digital) permitisse a mixagem desde mono até 5.1.

Com a chegada do DVD, os estúdios passaram a optar pela composição de formatos variados, em Dolby Digital (DTS é opcional no DVD), de 1.0 até 5.1 chegando a 6.1.

É preciso notar que o AC-3 é um codec muito flexível: ele tanto trabalha com estéreo convencional como estéreo matricial (Lt + Rt), que é a base do Dolby Stereo, ou com Dolby 2.0 Surround. A diferença entre eles, embora prevista no bitstream desse codec, é irrelevante, porque todos os decodificadores modernos trata os sinais contendo sons fora de fase mais ou menos da mesma maneira.

Não foram muitos os DVDs formatados com a transcrição literal do som original dos filmes. Esta transcrição provocaria sinais de Dolby Digital com codificação 3.0, 4.0 e 5.0, já que trilhas sonoras antigas não usavam canais de graves como o LFE.

Aqui novamente, o formato de codificação é, na prática, relativamente irrelevante: gravações de cinema em mono, 2, 2 matricial, 3, 4 ou 5 canais podem perfeitamente estar encarceradas em formato 5.1.

Se é assim, então porque não fazer todos os discos em 5.1, como nos videodiscos? É porque no DVD, o espaço de memória e o bitrate usados para a transcrição de um filme em vídeo são limitados!

No DVD, a economia da quantidade de memória para o áudio possibilita a menor compressão do vídeo e, portanto, a melhor qualidade, da imagem gravada digitalmente!

A codificação de 3 canais em 3.0, por exemplo, tem um bitrate menor, para a mesma qualidade de áudio, se comparada com a codificação desses mesmos 3 canais em 5.1.

Os estúdios podem, e às vezes o fazem, aumentar o bitrate (comprimindo menos o áudio) para poucos canais, de modo a melhorar a qualidade do som na reprodução.

Esta limitação, é bom que se diga, só terminou com a entrada em cena do Blu-Ray. Nele, a economia do espaço de memória e o bitrate baixo não são necessários para se evitar a deterioração da qualidade da imagem.

O resumo da ópera

Filmes de cinema não são necessariamente transcritos para o vídeo da mesma forma como eles foram apresentados originalmente. Na maioria dos casos, há um benéficio notório na mídia doméstica, a despeito desta alteração ser bem aceita pela comunidade de cinéfilos que a usa.

Trilhas originais em mono foram na verdade gravadas nos estúdios em canais separados, mas nunca lançadas no cinema como tal. As edições em vídeo refletem, por isso, uma nova, mas correta, realidade, e que não deveria ser ignorada.

Na era pós-Dolby Stereo, todo o diálogo dos filmes passou a estar concentrado no canal central da tela, em oposição às mixagens em 35 mm (CinemaScope) e 70 mm (Todd-AO e outros), que distribuíam as vozes dos atores na extensão da tela.

Isto levou os estúdios ao vício de remixar filmes antigos tirando o diálogo dos três ou cinco canais da tela para o meio. A idéia, incorreta a meu ver, é de adaptar os filmes de tela mais larga para a tela doméstica, bem menor e menos larga que as originais.

O tempo, porém, irá se encarregar de mostrar que está prática está errada, porque não respeita o trabalho dos engenheiros de som e se tornará inútil quando as telas domésticas aumentarem de tamanho! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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11 respostas

  1. Paulo,

    Eles podem até estar certos, mas os ajustes estão aí para serem feitos, concordas?

    A maioria dos bons receivers vem com aquele microfone, que permite fazer um ajuste automático no ambiente. Quem não é adepto do hobby, acha chato se meter com isso (eu também conheço vários!), ou só quer ligar e ouvir, pode fazer uso desta traquitana.

    Infelizmente, o fato é que a tecnologia avança e as pessoas não avançam com ela. Não faz tanto tempo assim que os caixas automáticos de bancos levavam pavor a muitas pessoas. E eu conheci, bem mais recentemente, uma moça com PhD em sua especialidade, que nunca havia usado um microcomputador na vida, e acabou me confessando que tinha “medo” de pegar em um mouse!

    Então, amigo, é para isto, em última análise, que servem as revistas e publicações diversas sobre este assunto. E aí se envolve quem quiser, quem não quer é só não ler. Muita gente por aí paga um profissional, e aí não é preciso se envolver com nada.

    Eu aqui sigo firme, acreditando que não existe esta falácia chamada de cultura inútil. Tudo na vida é importante, mas é preciso que as pessoas descubram a utilidade do conhecimento.

    A conquista do conhecimento, por outro lado, é uma das coisas mais importantes que um ser humano pode querer na vida. Na minha casa, eu tive o exemplo da minha mãe, que cresceu de uma família sem recursos, com pouca educação formal, casou-se com meu pai, que tinha curso universitário e passou o resto da vida mostrando aos filhos o exemplo do valor de saber as coisas e as chances que a gente não deve perder para se alcançar isso.

    Na minha vida acadêmica, eu também vi muito colega meu sem se importar com trivialidades técnicas, e quando entravam em sala de aula, qualquer aluno mais atento percebia logo que o sujeito em frente afirma coisas sem ter noção ou base alguma do que estava dizendo.

    E como a gente não consegue aprender tudo, eu mostrava aos meus alunos no nosso laboratório que teoria e prática andam de mãos dadas e que é preciso experimentar e errar para aprender!

  2. A diversidade de formatos de canais de áudio sempre foi pensada no sentido de se reproduzir ou dar realidade as sensações demonstradas nas imagens. Por anos instalei e estive em contato com clientes finais que nem querem entender essa gama enorme de dolby A a Z…O que interessa nos dias de hoje e , no presente e no futuro, são os meios de automatizar a leitura de audio e controle dos niveis das caixas, porque do contrário seria assunto pra fabricante, audiófilo ou técnico, é um assunto tremendamente chato pra quem quer apenas chegar em casa e tocar um cd, dvd. Tem gente que compra, coloca o disco, aperta play e só…e apos anos de instalação…..diria ….estão certos, muito certos…abçs a todos

  3. Celso,

    Quando me refiro ao ambiente ser “frio”, eu falo do ar condicionado exagerado (que já foi alvo da reclamação de muito gente, a ponto dos Cinemarks colocarem um sensor de temperatura lá dentro) e ao fato de que a ambiência causada pela presença do público não é mais a mesma. Sinal dos tempos? Não sei, mas é o que eu sinto.

  4. Bom dia Paulo,

    Então, estive em contato com um senhor proprietário de uma oficina em Brasília, de assistência aos cinemas de todo o Brasil e informou-me que a maioria das salas executam o Dolby Digital e os outros sistemas estão “esquecidos” dado que dificilmente os projetores são equipados com todos eles em virtude dos altos custos.
    Você tem razão quando diz que o volume das salas são demasiadamente altos. Imagine que a única sala aqui da praça ainda é analógica, então…
    Não consegui captar quando você afirma que o ambiente é “frio” nas stadium. Um grande problema que tínhamos no nosso cineclube era na disposição das poltronas (ainda de madeira). Quanto sentava um “gigante” na fileira da frente, principalmente nas projeções em cinemaScope, atrapalhava demais a leitura das legendas.
    Quanto ao THX ainda tem gente que mesmo acompanhando os comentários de áudio pensam que se trata de um novo sistema de som. Na sala que tenho frequentado em Bauru,SP, com certificação do sistema, nota-se uma melhora acentuada em comparação com as demais.
    Abraço.

  5. Pois é, Celso, ao longo dos anos eu sempre notei que áudio é um assunto restrito a pouca gente, o que é uma pena. Mas, as pesquisas para melhorar o som sempre existiram, evoluíram e muita gente nota.

    Agora, eu acho estranho que os operadores não saibam que tipo de áudio está sendo reproduzido, porque o caminho da película passa obrigatoriamente pelas cabeças de leitura do que estiver tocando. Inclusive no caso do DTS, que o operador recebe um CD-ROM junto com os rolos de filme, então como é que eles não sabem o que estão fazendo?

    Eu acho que os cinemas em forma de estádio são interessantes, no sentido de ninguém te atrapalhar para ver a tela, mas o ambiente é “frio”, em todos os sentidos.

    Além disso, na maioria das salas que eu já fui, o som é desequilibrado e toca alto demais. Na casa da gente, a reprodução da mesma trilha é sempre melhor, neste sentido.

    E note que hoje, com o Blu-Ray nós temos acesso ao som da master, muito mais do que o cinema, o que nos coloca, neste particular, numa enorme vantagem, sob o ponto de vista de reprodução. O resto, meu caro, fica por conta de quem instala em casa, concordas?

  6. Boa noite Paulo,

    Belo trabalho esse. É curioso observar que quando se fala em áudio no cinema, como você citou e tenho em mãos uma tira de fotogramas onde vemos a trilha analógica, o dolby entre as perfurações, os traços códigos do DTS e a faixa em azul do SDDS. Isso, em todos os filmes essa riqueza de som. Entretanto, quais as salas de cinema que executam esses sistemas? Na minha época de operador, usávamos apenas a analógica, pois, o projetor era pobre como tantos os que estão por aí no interior, nos chamados cinemas de rua. Tenho visitado cabines de São Paulo, da Cinemark e os operadores não sabem informar exatamente o que a máquina está executando! No IMAX que como já comentamos, agora é digital, propagam que a potência é de 12.000 watts! Realmente para o bom apreciador o som é agradável e bem distribuido no ambiente . Em sendo projeção digital, que sistema de áudio será esse? O projecionista também desconhece. Então, para que todos esses formatos? Uma coisa é certa: o grande público que é o objetivo do espetáculo não está nem um pouco preocupado com tudo isso. Quando em conversa com amigos e familiares ouço sempre o jargão: isso é para cinéfilos exigentes. Para eles, tendo algum som é o que basta! E olhe, com o cinema doméstico também ocorre o mesmo.
    Grande abraço.

  7. O que é lamentável é que o Blu-Ray continua a ser praticado com preços extorsivos, à exceção de uns poucos títulos, lançados por empresas como Imagem Filmes e Europa.

    O áudio no Blu-Ray chegou ao ponto que nenhuma sala de cinema que eu vi atualmente conseguirá chegar, não só sob o ponto de vista de números de canais, como principalmente pela qualidade do som distribuído no ambiente.

    Eu até já entrei numa sala daqui do Rio com o logo da THX, e sinceramente achei tão ruim quanto as outras. A impressão que passa é que ninguém se deu ao trabalho de fazer qualquer tipo de alinhamento no sistema e/ou que escolheram caixas erradas para este tipo de ambiente.

  8. Hoje eu tive minha primeira experiência como DTS HD MA. comprei o BD do AVATAR e nem sabia que tinha esse audio. Show de bola. Pena que os DVDs venham tão mutilados no Brasil.

  9. Parabéns pelo artigo. Trabalho com sonorização de shows e acompanho problemas semelhantes na vida profissional e nos forums de discussão. Já desisti de tentar explicar fase e correlação …

  10. Oi, Eder,

    É um prazer, amigo! Nesta sexta e sábado, estarei em São Paulo, capital. Pena que vai ser rápido e não vou ter tempo de encontrar quase ninguém.

    Abraço do
    Paulo Roberto Elias.

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