É hora de mudanças no gênero blog

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Eu estou começando a perceber um desgaste do gênero blog. Assim como os protestantes perceberam um desgaste na forma da igreja católica, penso que estamos começando a viver um tempo de mudanças drásticas nos blogs.

Talvez ao ponto deste próprio gênero não sobreviver: ou ainda, não ser lembrado por ter se transformado em outras coisas bem melhores, chamadas por outros nomes.

Para quem começou a blogar há muitos anos e pegou toda a as discussões dos blogcamps, a polêmica da ética problogger etc, parece realmente agora temos uma revolução em curso.

Blogs amadores e blogs profissionais

Blog, na minha época, era uma maneira muito fácil e amadora (no melhor sentido do termo) de publicar artigos. Vi a época dos blogs como diários adolescentes mas não participei.

De acordo com a Wikipédia, blog “é um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou posts. Estes são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática proposta do blog”.

Nos últimos dez anos o amadurecimento do gênero trouxe uma série de novidades.

A primeira e mais radical foi a possibilidade do autor ganhar dinheiro com seu blog. Seja como autônomo utilizando redes de anúncios e programas de afiliados (ou ainda vendendo posts), seja através de contrato com um grande portal ou jornal ou ainda como prestador de serviços de conteúdo para empresas e sites de conteúdo.

Aí surgiu uma contradição clara: adequar seu conteúdo e ritmo de postagens para ganhar mais dinheiro, ou deixar de lado o potencial de renda gerada diretamente do blog e apostar na notoriedade que o conteúdo produzido pode trazer ao autor – e aproveitar a notoriedade para fazer contatos que podem gerar dinheiro. Eu fiquei neste último grupo, e funcionou.

Os blogs profissionais estão se tornando publicações.

A maioria dos bons blogs profissionais acabaram se tornando publicações, com múltiplos autores pagos, mídia kit, contratos com redes de anúncio ou portais e mudanças significativas no próprio design.

Antes característico pela simplicidade dos posts em ordem cronológica-inversa e uma barra lateral com categorias e links para outros blogs, o design agora é mais sofisticado e se assemelha muito — quando não são ainda mais elaborados — ao design de portais, revistas e jornais.

Surgiram empresas especializadas em aproveitar a audiência para gerar receita para essas publicações, como a boo-box por exemplo. Aliás, a própria boo-box é um bom exemplo do entendimento desta mudança, ao chamar na sua comunicação corporativa os blogueiros de publishers.

Este movimento, que ainda está em curso, aproxima os blogs profissionais cada vez mais dos sites especializados de notícias e análises, permanecendo (às vezes) como característica distintiva o autor aparecendo e falando na primeira pessoa, assinando sua opinião, no lugar da “formalidade distanciada” da linguagem jornalística.

Distinção bem questionável aliás… O jornal impresso Le Monde Diplomatique Brasil, por exemplo, caberia muito bem nesta classificação.

No entanto, eu acredito que no final das contas, o jornalista diz o que pensa, sem assinar, do mesmo modo que o bom blogueiro mantém um certo distanciamento ético do fato sobre o qual escreve, ainda que diga “eu acho isso” em vez de “o especialista fulano de tal diz isso”.

E os blogs “amadores” ou de especialistas não amadureceram muito.

Quase livros

São abundantes os exemplos de blogs que foram editados como livros. Uma vez que o autor tem conteúdo de qualidade e que tem algum valor mesmo um bom tempo depois de ter sido escrito, faz muito sentido reunir tudo (ou o melhor) e publicar.

Por um lado o conteúdo dos blogs “profissionais” se assemelha ao das publicações periódicas, em que o jornal de ontem só serve para forrar a gaiola do passarinho, ressaltando o valor da análise e da notícia das últimas novidades.

Já os blogs como o do Luli, da Raquel Recuero, do Juliano Spyer são tão interessantes em postagens de anos atrás como as últimas. Não é à toa que estes autores são também autores de livros importantes nas suas áreas.

Orkut, publicação web ou… livro?

O blog como rede social adolescente já foi, virou Orkut, Twitter, Facebook. Os problogs viraram sites de notícias e análises mais ou menos comuns. E os blogs de especialistas ficaram parados no tempo.

Se o conteúdo que um autor escreveu no seu site há anos atrás é tão interessante quanto o de hoje, me parece claro que a ênfase na ordem cronológica-inversa característica do blog não é o melhor para o usuário. Ela esconde o bom conteúdo antigo, que pode até ser bem melhor que o novo.

Por isso, um pouco encorajado pela reforma do Luli, um pouco pela minha falta de estímulo para atualizar o meu blog, quero contribuir com esta discussão e espero que isso gere também uma reforminha por lá, que deve trazer um novo ânimo ao movimento.

O livro, como o conhecemos, obviamente não é a resposta à evolução necessária do gênero blog para autores deste tipo… Aliás, ainda não encontrei um nome adequado, tanto “amador” quanto “especialista” me parece um pouco ridículo. Óbvio: o nome vem do gênero, e estamos falando de um gênero que está começando a ser inventado.

Entre as coisas mais interessantes que podem surgir neste novo gênero está o “Para entender a internet”, coordenado pelo Juliano Spyer… uma experiência colaborativa, de conteúdo que deve ser relevante por um bom tempo, e que está em constante atualização. 10 no conteúdo… Já a forma, um blog, chegou ao ponto de desgaste tão grande, que o Blogger entendeu o livro como spam e tirou o site do ar. Precisamos desenvolver outra forma.

Algumas perguntas

  • Como engajar o leitor numa experiência de imersão como o livro é capaz de fazer, mantendo as características dinâmicas, fluidas, de atualização e diálogo constante da web?
  • Como levar o leitor a conteúdos antigos de seu interesse, conectando um conteúdo ao outro de forma coerente, mas ultrapassando a linearidade (chata?) do livro e a fragmentação das coletâneas?
  • Como facilitar conversações entre autores de “blogs” diferentes a respeito de assuntos e conteúdos que podem ter escrito em qualquer época e pode ser acompanhada pelo leitor, criando uma hiper-narrativa transversal entre os sites e autores?
  • Como manter a característica de conversação de cada post, mantendo cada leitor que fez um comentário interessado e engajado, mesmo muito tempo depois de ter feito seu comentário?
  • Aliás, será que o post deve continuar sendo o objeto central? Ou podem surgir outros objetos, como tags, temas, assuntos, em torno dos quais o diálogo aconteça?

Enfim, há muitas outras perguntas… e eu espero começar a ver — e compartilhar aqui — logo logo algumas tentativas de respostas. [Webinsider]

…………………………

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Gilberto Jr (gilbertojr@gmail.com) tem experiência no mercado digital como designer de produtos, fundador de duas startups, gerente de projetos em agências digitais e gerente de produto no Scup. Agora procura um novo desafio. Veja mais no Linkedin.

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Mais lidas

14 respostas

  1. A forma de exibição dos posts realmente é uma questão a se pensar bastante.

    Primeiro, pelo que você já disse: os posts mais recentes (e não os mais importantes) aparecem no topo, o que pode não ser o melhor para o leitor.

    Segundo pelo fato de que isso pode ser desvantajoso também para o editor. Imagine um visitante entrando em seu blog pela primeira vez. Naturalmente, ele teria mais chances de transformar-se em um leitor assíduo se visse, já de cara, seus posts mais relevantes na primeira página.

    O Brian Clark, do Copyblogger, fala sobre “cornerstone content”, que é o conteúdo que melhor representa seu blog/site. O Brainstorm #9 e o Trabalho Sujo, por exemplo, colocam alguns dos seus artigos de maior destaque em links na primeira página. O que eu considero uma boa solução, ou pelo menos a melhor que temos, por enquanto.

    Parabéns pelo artigo (e pelas perguntas).

  2. Se um blog não for analisado pela sua estrutura mas sim pelo seu objetivo, ele nunca vai deixar de existir.

    Pois mesmo que a estrutura cronológica/linear acabe, o espaço de contato direto em um nível médio de formalidade e interação leitor/publicador vai continuar existindo e é isso que caracteriza um blog.

    Ele pode até ganhar outro nome, mas não acredito seu conceito desaparecerá.

    abs!

  3. Oi Gilberto,
    já há algum tempo eu venho sentindo isto, esta inadequação de formato.O estilo diário online já está obsoleto mesmo para os blogs teen, cheio de bichinhos e posts sem relevância.
    Muitos blogs começam querendo evoluir para sites e portais e se perdem no meio do caminho. E, de fato, muitos bons posts se perdem no tempo.

    Nesta busca de um novo modelo talvez o excesso de conectividade dê um nó em nossas cabeças.Talvez, a nova geração seja a portadora desta solução.

    abç,
    d.

  4. Olá, Gilberto

    Bom artigo, mas, na minha opinião, devemos lembrar que o conceito de Blog anda bem abrangente. Os Blogs iniciais, do tipo diário adolescente (que também não cheguei a usar, mas vi muitos amigos fazerem) ainda existem por aí. Também existem os feitos de notícias, e nesses casos a ordem cronológica inversa continua sendo a melhor. Têm “colecionadores de blogs” por aí, gente que cria endereços e temas quando está “inspirado”, já que é fácil e gratuito, mas acaba abandonando a maioria dos projetos.

    E têm, é claro, blogs que realmente deveriam resgatar coisas antigas, que não perdem valor no tempo. Muitos ficam no meio do caminho entre blog e site. Mas, por mais que seja um assunto interessante e pertinente para discussão, não me preocupo com eles. Acho que eles vão se reinventando sozinhos, cada um à sua forma. Temos bastante gente criativa por aí.

    Um abraço

  5. Engraçado, Gilberto… Comecei com um blog em 2006, quando estava no início do curso de jornalismo. Com o tempo, ele se tornou um site (hoje, sem atualizações). Depois, fiz um blog para a monografia. Pensei em continuar, mas desisti. Há algumas semanas, tive uma ideia: criar um novo blog. O fiz, mas depois, vi que a ideia perdera sentido. Resolvi, então, ficar pelo Twitter mesmo, liberando minhas partículas de ideias vento. Enfim, acho que o blog não precisa se reiventar. As coisas novas chegaram. Bem-vindo ao novo tempo!

  6. Oi Breiller,

    Realmente. Me parece que a informalidade dos blogs traz uma cultura muito mais focada no conteúdo do que na forma. Parece que é só o que você diz que importa, e como você diz tanto faz. Uma boa crônica esportiva pode ser divertidíssima, seja sobre a final da copa do mundo ou sobre um jogo de várzea.

    []s
    Gilberto Jr

  7. Análise mais do que pertinente, Gilberto.

    Como milito há anos na blogosfera esportiva, não posso deixar de citar o exemplo dos inúmeros blogs que vem cobrindo a Copa do Mundo.

    Salvas uma ou outra rara exceção, a maioria dos blogs esportivos se restringem a analisar jogo a jogo, lance a lance. Nada os diferencia da cobertura tradicional do jornal impresso, por exemplo.

    Não há relevância/novidade no conteúdo da grande parte dos blogs. Opiniões semelhantes, abordagens convencionais. É difícil ver, por exemplo, uma boa matéria ser publicada com exclusividade num blog “amador”. Ninguém se dispõe a fazer apuração própria, mas todos querem estar na rede, ter o seu espaço de expressão.

    Isso, de certa forma, acaba minando a autoridade dos blogs em geral, pois torna a rede hiper saturada, carente de novos discursos e abordagens.

    Abraço!

  8. Gilberto,

    concordo 100% que o blog do jeito que é hoje, mas pode mudar, não ajuda quem tem um blog de mais tempo.

    Acho que deve evoluir na ideia, permitindo ao autor organizar melhor o seu acervo….

    Acredito, entretanto, que é um grande espaço para mostrar o que andamos pensando – hoje / agora.

    E algo não tão bom para quem quer produzir algo mais consolidado, hoje…pois a ferramenta, pode ser alterada, deve ter até plugin para essas coisas e não sabemos.

    Por isso, não questionaria o conceito “blog” – espaço para produção de rascunhos.

    Mas a ferramenta “blog” que demos hoje…

    Um claro que bebe do outro, mas podemos ter mais adiante blogs com acervo detalhado e de fácil visualização.

    E outros no modelo atual,

    abraços,

    nepô.

  9. Sérgio,

    Se você olhar meus posts aqui no webinsider, verá que pouca gente falou tanto aqui de web 2.0 do que eu. Mas, em primeiro lugar, perceba que este artigo está cheio de perguntas, de dúvidas. Em segundo lugar, eu não tenho medo de parecer conservador ou reacionário e acho que uma solução velha, fora de moda e low-tech pode muito bem ser mais adequada para um problema do que as soluções hype.

    Mas é interessante vc trazer o Nielsen à tona. Eu e o fred usabilidoido conversamos sobre isso lá no meu blog antes do post vir pra cá: http://prati.ca

    Lá eu disse ao fred, e repito aqui pra vc:

    “O useit do Nielsen é mesmo um bom exemplo pra começar uma dicussão. Tem um link com todas as edições da sua coluna bi-semanal (que ele não chama de blog) e links para seus reports e livros para o usuário comprar.

    Assim, ele escolheu uma estrutura muito parecida com um blog para sua coluna (artigos listados em ordem cronológica-inversa) mas para os conteúdos em que ele se aprofunda mais, preferiu o PDF à venda. Aí ele amarra tudo em duas colunas com links em categorias de acordo com o tipo de mídia na home do seu site.”

    Não sei se uma boa usabilidade resolve os desafios e responde às dúvidas que tenho neste artigo. É óbvio que um blog melhor é um blog melhor. Mas eu acredito que em certos casos, nem um design perfeito resolve a contradição entre conteúdo e forma, ou seja, a inadequação de determinada forma a determinado conteúdo. E é essa inadequação que estou defendendo aqui.

    Já os blogs que eu digo que se tornaram “publicações comuns” fizeram toda a lição de casa do nielsen (e de muitos outros) direitinho. E deu certo.

    Abraço,
    Gilberto Jr

  10. Nepo,

    O fato de você ter vontade, ou perceber a necessidade, de juntar seus posts em um único PDF é o melhor sintoma de que o blog não é um formato bom para o tipo de conteúdo que você cria.

    A pergunta é: porque o PDF com certos posts é um formato melhor do que o seu blog? Porque os artigos estão organizados de maneira que faz mais sentido? Porque o design, com letras maiores, sem barras laterais, comentários, etc, para tirar a atenção do usuário enquanto ele lê, é melhor?

    O que eu me pergunto, olhando novamente os posts do meu próprio blog é: não seria bem melhor se eu publicasse *somente* os artigos que são bons? Pensando assim, tenho mais orgulho desta página no webinsider ( http://webinsider.uol.com.br/index.php/author/gilberto_alves_jr ), com quase 70 artigos publicados aqui, do que do meu blog.

    E aí, pra que serve o meu blog, a final? Eu não estaria conversando com você se só publicasse meus artigos lá 🙂

    Abraço,
    Gilberto

  11. Concordo, antes os Blogs eram amadores e hoje vemos muitos blogs profissionais, isso porque muitos geram retorno financeiro.
    Marcia

  12. Gilberto,

    é uma boa questão…

    Acredito que deveria haver melhorias na tecnologia e na metodologia.

    Na tecnologia, ter algo, se é que já não há por aí, que deixe no menu lateral o que é mais lido, dando ao leitor, a possibilidade de ler o que é histórico de relevância;

    Seria bom também que houvesse algo que o autor pudesse marcar posts e transformá-los direto em PDF. ou doc, etc, já com uma da formatação, ou seja, a passagem blog – livro, pois atende a essa demanda;

    E mudanças na metodologia, que tenho tentado agora que é de ir separando temas e tentar construir livros com os posts mais relevantes.

    Tenho me dedicado a isso na rua, nos cybers, enquanto espero reuniões…

    Muito boa a reflexão,

    abraços

    Nepô.

  13. Acho que o seu questionamento é bem pertinente e os blogs se tornaram muito mais do que simples diários.

    A organização em ordem cronológica inversa faz sentido para a maioria dos blogs que eu conheço, mas acho que pode haver conteúdos que justifiquem uma mudança nesse paradigma.

    A maioria dos publishers ou blogueiros que eu conheço pensam no formato do blog e não sei se isso vai mudar no curto prazo. Até porque quando essa cronologia não é importante e o conteúdo como um todo passa a ser essencial, cria-se um site.

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