Design de produtos é uma arte, não uma democracia

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design de produtosVocê já ouviu a parábola do coelho que nasce do elefante? Uma mãe, que fez questão de matricular o filho em uma nova escola “democrática”, foi reclamar à professora que seu filho andava aprendendo coisas erradas. Por exemplo, que o coelho nascia do elefante.

A professora explicou: “O seu filho disse na aula que o coelho nasce do elefante. Eu ensinei que o elefante nasce do elefante e o coelho do coelho. Ele pediu que votássemos, e sendo muito carismático, ganhou os votos da turma. E então, ficou decidido: o coelho nasce do elefante. Não tem nada de errado nisso”.

É comum ver coisas semelhantes acontecerem no campo do design de produtos para web. Os usuários enviam sugestões de novas funcionalidades ou modificações e o produto vai piorando em vez de melhorar.

O que acontece nestes casos é que os usuários (e o gerente de produto também) não têm conhecimento técnico para perceber o dano que determinada modificação pode causar, porque trabalhar com design de produtos é lidar com complexidade.

Uma funcionalidade pensada isoladamente pode parecer uma ideia maravilhosa, mas quando colocada no contexto da experiência do usuário em relação a todas as outras funcionalidades e ao fluxo de ações que ele precisa realizar, dentro dos limites da interface, pode ser um desastre.

O produto é uma obra de arte do designer

O designer de produtos deve ser um ditador? Claro que não. Ditadores são aqueles caras que são tão inseguros que acabam compensando sua burrice com força bruta. Mas o designer deve saber o óbvio: ele é o designer, é ele quem decide. Não pode confundir inteligência coletiva com burrice das multidões.

Ele deve ter coragem de contrariar as sugestões, sair do óbvio e surpreender o usuário com algo que ele não imaginava que o produto poderia fazer.

O produto é uma obra de arte do designer e dos demais produtores que trabalham nele, e embora seja fundamental ter teatralidade (entreter o público) e a usabilidade (ser útil), são estes produtores que comandam o show. Lembre-se: o programa “Você Decide” da Rede Globo foi um fracasso, porque o público não quer decidir o final do filme, ele quer ser surpreendido, como acontece nas melhores novelas.

Isso é particularmente importante quando pensamos sobre o posicionamento das marcas nas redes sociais. Não é porque muita gente diz tal coisa sobre sua marca que você deve ouvi-los. É preciso ter discernimento para distinguir um movimento emergente legítimo de uma minoria ruidosa e burra.

Além disso, atenção: para aproveitar a “sabedoria das multidões” é preciso ter uma multidão. Aplicar métodos considerados “2.0” de mudar um produto a partir da opinião dos usuários quando você ainda tem poucos usuários não faz sentido. Num produto com (só) mil usuários, dez emails com a mesma opinião são 1%, ou seja: nada.

Métricas são uma bússola

No entanto, é preciso ficar atendo e aproveitar as métricas que estiverem na sua mão para saber para onde ir. As métricas sim, são uma boa bússola. Se você faz duas home pages, põe as duas no ar e uma vende 10% a mais que a outra, não há democracia burra, não há intuição de designer gênio, não há nada além de um fato estatístico simples: uma fica, a outra sai.

Se os usuários desistem em um determinado pondo do fluxo, não é preciso receber e-mails irritados para saber rapidamente que há algo errado com a usabilidade (ou outros aspectos estratégicos) daquela página.

Então, da próxima vez que você estiver coçando a cabeça porque seus usuários insistem que o coelho nasce do elefante, confie no seu conhecimento e na sua intuição de designer e responda educadamente, mas com firmeza: não. [Webinsider]

Gilberto Jr (gilbertojr@gmail.com) tem experiência no mercado digital como designer de produtos, fundador de duas startups, gerente de projetos em agências digitais e gerente de produto no Scup. Agora procura um novo desafio. Veja mais no Linkedin.

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5 respostas

  1. O assunto do artigo não é se design é ou não é arte. Eu adoro esta polêmica, já escrevi muito sobre isso, mas este texto não trata dela.

    Para quem não entendeu, eu estou dizendo que o produtor ou designer de projetos é “artista” como uma metáfora.

    A polêmica aqui é outra, mais interessante (para mim pelo menos): mudar o produto de acordo com o feedback dos usuários ou de acordo com a intuição do designer? Se o designer é bom, eu fico com a segunda opção.

  2. Difícil entender como o design é passado como arte.

    A tradução mais aceita do termo design é projeto. Termo frio e objetivo.

    A arte não tem este cunho. A arte não se prende a nada. A arte só tem uma finalidade expressar o que o artista sente. E neste campo de sentimentos não há projetos. É um campo visceral.

    A arte não é democrática, é autoritaria. O pintor pinta o que quer, o músico compoe o que quer. O escritor escreve como quer. Não há enquete, ou wireframes, ou testes de usabilidade para isto.

    Porém o designer projeta algo para atingir determinado fim. E deve se importar como o meio é feito para atingir o fim desejável. Algo diferente disto é arte ou um projeto mal desempenhado.

    Sendo assim o título poderia ser: Design não é uma arte, é projeto.

  3. O pessoal da Apple é muito bom em fazer isso…

    Sempre que lançam um produto as pessoas reclamam da falta de determinadas funcionalidades…

    O produto e lançado, e como se foca no essêncial, a curva de aprendizado é bem tranquila, e depois a Apple lança outras versões com mais funcionalidades mas sem prejudicar a usabilidade…

    foi assim com o Ipod o Iphone e provavelmente será assim com o Ipad….

  4. Parabéns pelo texto, muito bom.
    Fazendo um exercício: se Romeu e Julieta contasse com a opinião pública, teria mortes no final e se tornaria um clássico?
    Trabalho com textos, outra coisa que, como medicina e violão, todos entendem um pouco. Então querem incluir isso e aquilo, porque sempre é possível e todos já aprenderam o alfabeto. Só não aprenderam a confiar que, se tem alguém especializado naquilo, deve ter um motivo.

    Só me preocupa uma coisa: o exagero. Claro que o designer deve decidir no final, mas isso não significa não ouvir. Mesmo pessoas que não entendem muito do assunto podem ter bons palpites de vez em quando, e um bom profissional vai saber avaliar se for o caso.

  5. Ótimo ponto de vista.
    Esse foi um dos grandes aprendizados que adquiri ao ler Getting Real. Querer agradar a todos é uma grande armadilha realmente. Digo por experiência (e erro) próprios.

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