A teoria das opções reais aplicada a possibilidades na vida pessoal e profissional. Podemos sair melhor do que entramos.
Incertezas e dificuldades sempre vão ocorrer em nossa vida, no plano pessoal ou profissional. Devemos aproveitar momentos críticos para gerar opções e, usando a cabeça, nos safarmos de situações desfavoráveis,
“Uma das três certezas na vida que temos é que teremos mudanças” (as outras certezas são a morte e os impostos). Sabedoria anônima.
Este é o terceiro ensaio, fechando a trilogia iniciada com Teoria das opções reais lida com incertezas e com A parceria ganha-ganha e a parceria soma-zero.
Naquelas ocasiões, introduzimos conceitos básicos da Teoria das Opções Reais (TOR), mostrando uma aplicação fictícia na decisão de investimento de um empresário X.
Neste último ensaio, vamos expandir a aplicação da TOR à vida real, pessoal ou profissional.
A vida anda para a frente, como bem apresenta Eduardo Zugaib em Na vida, parar tem apenas dois significados.
E, nesse andar, nos defrontamos com situações limite, em que normalmente nos esquecemos de que outras opções ou alternativas podem existir, além das dicotomias triviais sim-não, fazer-não fazer etc.
E essas situações limite, ao nos forçar a procurar soluções, podem nos levar a situações melhores do que aquelas em que nos encontrávamos antes. O processo de análise e decisão frente a essas situações acaba provocando um amadurecimento intensivo, em um curto espaço de tempo!
Podemos sair melhor do que entramos!
E devemos nos lembrar de que cada situação carrega um componente positivo, como mostrado por Eduardo Zugaib.
Sim, aquela história de “transformar limão em limonada” pode ser real.
Como exemplo, temos o jovem estressado frente à decisão de qual curso optar no vestibular. Pode, também, buscar outras opções, como a de adiar essa decisão, mostradas no diagrama a seguir:
Levando em conta essa opção de adiamento da decisão, ele pode se estressar menos e, quem sabe, tomar uma decisão melhor, mais madura e com mais informações, coletadas ao longo desse período.
Ele pode estagiar numa função que tenha a ver com a carreira que mais desperte seu interesse, e, durante esse período antes de decidir, ele pode ratificar ou retificar essa sua intenção!
O mesmo se aplica à decisão de sair ou não de um emprego, ou, ainda, de mudar de área dentro de uma mesma empresa:
Coisas mudam. Por exemplo, o chefe pode mudar, a empresa pode ser incorporada por outra, adquirir outra ou até mesmo fechar – aí, o problema da decisão deixaria de existir!
Outro exemplo é a questão difícil de separação no casamento. Podem combinar, por exemplo, uma separação temporária, para que cada um possa refletir melhor.
Nesse período, um dos dois (ou os dois) pode(m) se reencontrar consigo mesmo e, quem sabe, ver que a separação não é o melhor caminho.
Pode ser melhor aparar eventuais arestas menores no relacionamento a dois do que percorrer outro caminho (separação) e chegar num ponto pior do que o atual.
Nos três casos mencionados, durante esse período de “tempo para decidir”, opções novas podem ocorrer e/ou ser criadas, como muito bem mencionado em Na vida, parar tem apenas dois significados:
“A dinâmica que move a nossa vida é similar à dinâmica que move um rio. Ele nasce, inicia seu percurso, ganha corpo ao longo do caminho e sempre corre para a frente, adaptando-se ao terreno e às dificuldades que encontra.”
E essas dificuldades que encontramos podem ser o incentivo para que criemos opções. Essas opções, além de nos ajudarem a resolver problemas que aparecem diante de nós, podem até fazer com que saiamos melhor do que estávamos antes que esses problemas surgissem.
Quanto aos exemplos recém mencionados, uma reflexão: o valor das opções fica mais evidente quando novas opções aparecem pelo simples fato de esperarmos uma “rodada de tempo”. No caso de um casal em dúvida, por exemplo, sobre ter ou não um filho, a decisão de não ter um filho em t=0 poderia abrir a oportunidade de o casal se mudar e ambos (ou um dos dois) ser promovido. Assim, depois de se mudar, aí sim o casal poderia ter filhos.
Não se trata de auto ajuda barata. Trata-se de usar o cérebro e nossas sinapses a nosso favor para dar um upgrade em nossas vidas.
Fácil? Não, não é fácil pensar nessa profundidade. Requer muito esforço, muito processamento e pode até doer às vezes – risos.
E pensar é sempre um processo linear, cartesiano e preciso? Não, nada disso – como dizia Fernando Pessoa, o próprio “viver não é preciso”!
Conclusão
Vivemos tempos de muitas mudanças, que nos trazem instabilidades, sim, mas também podem nos trazer opções positivas. Cabe a nós usarmos o nosso cérebro, a nossa energia, a nosso favor.
Sempre é bom lembrar que processos “ganha-ganha” são sempre melhores e mais duradouros do que processos “soma-zero” e A boa negociação é a busca de pontos em comum, como bem focado por Eduardo Zugaib.
Fácil? Não, não é fácil, até porque nos acostumamos (mal) a raciocinar de modo customizado, sem manter a mente aberta nem usar o chamado pensamento lateral – bem, mas isso é outra história! [Webinsider]
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Pedro Paulo Bramont
Pedro Paulo Bramont (pp@mktpeople.net) é doutor em avaliação de projetos pela UFSC (1996) e tem um livro publicado pela Editora FURB sobre o mesmo tema. Atualmente gerencia projetos especiais. Nascido no Rio, reside em Floripa há bastante tempo e traz as duas cidades no coração. Mantém o site MKT People.
3 respostas
Um texto que trata, com sensibilidade, do controverso momento da decisão. Faz sentir a harmonia que pode nascer da inquietação e do sofrimento humano quando o olhar e os ouvidos são vigilantes e abertos.
Pensei nas “situações limites” do meu próprio momento e desejei que sejam grandes o bastante para me levar a um salto de crescimento e de mudanças. Pensei nos alertas contidos nas palavras casuais ou insistentes e desejei que todas tenham a força do amor. E que nasça do amor a minha abertura.
Com o amor como suporte, enfim, seja qual for o resultado prático de nossas escolhas, o resultado será sempre o crescimento.
Um abraço Pedro
Obrigada pela rica reflexão que, como toda sábia reflexão, é instigante e toma um corpo próprio e profundo em cada leitor.
Pedro, que texto excelente, um belo convite para uma jornada de reflexão em busca de uma atitude transformadora em nossa vida.
Você está certo, nem sempre tomar uma decisão em que aparentamos caminhar para trás, é de fato um erro ou fracasso.
A velha história de dar “um passo para trás para dar dois adiante”.
Parabéns e obrigado.