Ser minimalista

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Ser minimalista - menos é mais

Ser minimalista

Há algum tempo venho tentando adotar práticas minimalistas, mas essa atitude ficou mais evidente na minha vida a partir da redução do custo de armazenamento digital.

Quando o mundo começou a se digitalizar com a migração da música do vinil para o CD notei que um dia seria possível armazenar e organizar minha vida quase toda em um computador.

Confesso que não imaginei que seria assim tão rápido, mas imaginei sim que um dia iria acontecer.

Outro fato ocorrido mais tarde foi uma frase de um amigo. Durante uma fase da minha vida tive que realizar várias mudanças e em um dado momento uma caixa permaneceu fechada durante duas mudanças. Esse amigo percebeu isso e me disse: “se não deu falta de nada do que está guardado lá dentro durante todo esse tempo, pode jogar a caixa fora sem abrir”. Apesar da coerência da afirmação, não tive essa coragem – porém ao abrir a caixa e verificar o que estava lá dentro, joguei fora 80% do conteúdo.

Teve início nesse dia (algo como uns seis anos atrás) um longo processo que ainda não terminou, mas que já me levou a estágios que pensei serem muito difíceis de alcançar.

Os que acompanham esse meu relato digital de cada dia sabem que em um dado momento transferi todas as minhas músicas de CDs para o iTunes. Não abri mão dos CDs imediatamente, mas uns dois anos depois doei toda coleção para amigos. E ela não era pequena!

Todos os documentos que tenho estão no Evernote e os que não precisam ser armazenados em meio físico são imediatamente descartados. Não é exagero dizer que esse aplicativo é hoje meu segundo cérebro. Há aqui no blog inúmeros artigos citando a ferramenta. Também não é exagero algum dizer que o Evernote contribui muito para minha saga em busca do minimalismo.

Com relação à parte do mundo que não pode ser digitalizada, aplico também minhas técnicas minimalistas. Tenho pares de calçados e roupas suficientes para cada ocasião. Nada além disso! Nada de excesso e o que não estou usando por algum tempo, vai embora como o conteúdo da caixa que ficou quase um ano lacrada no meu apartamento.

No caso de roupas ganho sempre de presente de familiares no Natal, ano novo, dia dos pais etc. e estou constantemente realizando doações das que ficam sem uso por algum tempo.

Pense naquelas roupas que estão no fundo da sua gaveta e que você nunca chega a usar pois as de cima são lavadas e passadas a tempo de encher novamente a gaveta. Em tese elas nem existem para você. Ou seja, não precisam estar ali ocupando espaço.

Sabe aquela caixa cheia de cabos que conectam todo tipo de eletrônicos, inclusive aqueles da década de 80? Eu tenho uma dessas também extremamente minimalista. Só podem morar lá dentro cabos e conectores que fazem algum sentido. Coisas que posso usar neste século, de preferência. Neste caso, o que não serve para mais ninguém eu reciclo em local apropriado.

Poderia ficar aqui listando minhas ações em prol do menos, mas esse tema está por toda internet, como por exemplo nos blogs Cult of Less e Mnmlist. Gosto muito de ambos e apesar do que já atingi com ajuda deles, ainda acho que falta muito.

Esse final de semana percebi que era tempo para mais uma rodada de desapego e comecei a vasculhar os poucos espaços da casa ocupados com coisas minhas e lá se foi mais um emaranhado de itens para o lixo, doação e reciclagem. E não vou parar. Quando começo a me desfazer das coisas, parece que cai sobre mim uma onda que continua a me levar. Portanto, nos próximos dias a “eliminação” continuará.

Alguns me perguntam qual a razão disso. Os mais próximos e que me conhecem bem, sabem que não pode ser algo místico ou supersticioso. E por mais que eu pense nos outros e procure sempre fazer o melhor para o mundo, não é esta também a razão. Em realidade meus motivos são bastante egoístas e individualistas. Penso que quanto menos eu tiver, menos dor de cabeça o “ter” me trará.

Vamos a um exemplo simples e que todos entenderão. Carro traz comodidade? Sim, de fato. Porém em conjunto temos que lidar com o congestionamento, vagas para estacionar, seguro, prestações, limpeza, acidentes, multas, etc. Para meu atual trabalho – e creio que para grande maioria de nós! – é um bem indispensável, mas tenho sim um projeto de muito longo prazo em que minha vida se fará sem carro.

Pense em tudo que você tem e comece a medir a dor de cabeça comparada com os benefícios. Quando os transtornos são maiores que os benefícios é chegada a hora de abrir mão daquilo.

Outra vantagem do “menos” é a organização e a facilidade de administrar as coisas. Eu tenho um mapa mental e natural de onde quase tudo que eu tenho está. Isso facilita demais a minha vida. Quando preciso de algo, simplesmente vou direto ao ponto e quando preciso guardar, é algo tão fácil que já se tornou automático nos meus processos.

Gosto também da ideia de conservação e valor dado a cada item. Pense que parte de seu trabalho foi despendido para comprar aquele item, portanto ele precisa ter um valor para você. Ele, afinal, representa parte do tempo que você deixou de estar com sua família, de ler um bom livro, de ir ao cinema, de se cuidar, etc. Portanto, se tenho poucos bens a tendência é que eu cuide melhor deles e que eles durem mais. Ou seja, no fim, estou dando mais valor ao meu próprio tempo. Isso vale para tudo: roupas, canetas, bonés, computadores, mochilas, sapatos, etc.

Falemos mais sobre tempo. Não tenho mais TV a cabo. Tivemos por muito tempo, mas confesso – honestamente! – que tudo que ela me propiciava eram mais canais para mudar. Não foram poucas as vezes que me peguei rodando os canais num loop idiota e irracional em lugar de estar fazendo algo divertido com a família ou mesmo lendo um bom livro.

Não estou pregando que a TV é algo maléfico. Eu gosto de TV! Mas há formas mais sadias que lidar com a TV. Filmes da locadora, ir ao cinema, comprar no iTunes seus seriados favoritos (os favoritos de verdade e não o que te obrigam a ver!), e assim por diante.

Há várias iniciativas minimalistas divulgadas na internet: das mais simples e artísticas às mais radicais. Não meu caso não significa abrir mão de tudo! E em realidade cada um precisa fazer suas próprias medidas do que é mais benéfico que problemático. Ou vice-versa. Faço isso constantemente e me desfaço das coisas à medida que posso. Porém não estou aqui conclamando ninguém para uma revolução. Cada um sabe como ser feliz. Assim espero!

O que eu sei é que apesar de mais de 10 mil fotos no meu iPhoto, consigo sempre ver várias diariamente flutuando no meu protetor de tela do Mac ou nos sincronismos de listas inteligentes do iPad e iPhone. Sei que guardo excelentes lembranças dos lugares maravilhosos que vejo ao redor do mundo com dinheiro que poupo com meu minimalismo. Sei que posso concretizar projetos maravilhosos com meus familiares. Sei que tenho ficado mais leve mentalmente a cada dia. Em resumo, menos peso com preocupações excessivas.

Em outras palavras, espero cada vez mais ter cada vez menos para ter cada vez mais. [Webinsider]

Vladimir Campos é escritor. Veja mais sobre ele.

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11 respostas

  1. Legal o texto sobre ser minimalista e propaganda da Apple, só não acredito que iPhone, iPad, iTunes… sejam necessários.

  2. E isso é sustentabilidade! Economia, prudência ecológica, justiça social e qualidade de vida. Quando consumimos menos, gastamos menos dinheiro, geramos menos lixo e utilizamos menos os recursos naturais que Terra nos proporciona. 😉
    Valeu!
    Adriana

  3. Bom demais o texto. Tento me desapegar das coisas, mas não sou exatamente um exemplo. Agora queria dizer que estou conhecendo o Evernote, e totalmente apaixonada! Dos melhores programinhas da minha história internética.

  4. Parabéns pelo texto.

    Nós julgamos precisar de tanta coisa que, na prática, viram tralha. Devo confessar que é um pouco difícil desapegar de certas coisas depois de tanto tempo acostumado com um padrão de comportamento consumista e modismos. Contudo, acho que é viável levar uma vida mais minimalista e mais saudável, sem exageros e aproveitando aquilo que você conquistou com muito esforço.

  5. Esse é dos meus! Penso da mesma forma.
    Excelente texto.

    Toda essa leveza do ser, conforme mencionou Marco Moreira, com certeza passa por qualidade de vida. A vida é simples. Sejamos nós também.

    Penso que um dia teremos às mãos somente aquilo que pudermos levar conosco, sem a necessidade de qualquer outro tipo de veiculo para carregar nossas tralhas. A isso se chamará (utopicamente talvez) o “mínimo, essencial e justo” para todos.

  6. Estava hoje pensando, como venho fazendo há alguns meses, as estratégias necessárias para me livrar do carro, minha esposa já tem o da família e hoje, por motivos profissionais e de logística com minhas filhas, ainda preciso de meu calhambeque, mas muito provavelmente ele será descartado ano que vem, e com o dinheiro de venda pretendo me equipar com uma bela bike motorizada a eletrecidade e apetrechos que me protejam quando o tempo estiver desfavorável.

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