NewsGames despontam como novo modelo de webjornalismo

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Com Luciene Santos.

Como tudo que é novo, militares do alto escalão do governo americano assistiram, numa sala escura do Pentágono, a demonstração inacreditável do surgimento da Arpanet. A tecnologia baseada em ‘0 e 1’ serviu de base para a criação da primeira rede de computadores do mundo. O objetivo do projeto de internet era interligar as bases militares e os centros de pesquisas do governo.

O que em 1969 parecia algo restrito apenas a área militar, poucos anos depois tornou-se febre mundial para uso pessoal, coletivo, irrestrito, público. Usando a história da internet como parâmetro, os primeiros passos da Teoria dos NewsGames serve como lanterna na escuridão. Na contramão dos games como mera diversão, os newsgames chegam como proposta real de uma prática de games como suporte de produção, circulação e consumo de informação e notícia.

Diferente do simples entretenimento proposto pelos games comerciais, a Cultura dos NewsGames surge como instrumento colaborativo de mobilização social para cossolução de problemas reais do mundo cotidiano. Do boom da indústria dos jogos eletrônicos na década de 1970 à retomada do fôlego nos anos 90, muitos usuários dessa fascinante tecnologia ainda encaram os videogames como meros ‘telespectadores’ de TV.

Mesmo em ambiente digital, muitos  jogadores não conseguem perceber os games como base de informação, quiça como suporte de consumo de notícia. De quem é a culpa? Talvez, a forma como os jogos eletrônicos foram formatados criou-se a falsa ideia de que eles sirvam apenas como diversão. Mas, o tiro saiu pela culatra. A base lúdica dos games funciona como porta de entrada para a aprendizagem e o conhecimento de qualquer tipo de faculdade.

NewsGames como novo modelo de webjornalismo

Quando jovem não tive a mesma oportunidade, como muitos de meus amigos, de gostar dos videogames como entretenimento e diversão, por causa dos altos preços dos consoles. Então, como explicar agora o uso dos suportes de games como notícia para quem nunca teve o prazer de jogar? A razão é muito simples: ao longo do mestrado, notamos que os suportes de games possuem um potencial infinitamente mais informativo que a tosca face branca dos webjornais onde são subscritas as notícias.

Mesmo com todos os recursos disponíveis (vídeos, áudios, infográficos, galerias de fotos, download, feeds, on domand, favoritos, e outros), os jornais online não possuem a mesma ludicidade informativa, tampouco o mesmo poder cognitivo proporcionado pelas plataformas de games. Para um jogador comum, formatado pelos games apenas como mero entretenimento, é difícil digerir a possibilidade de mistura entre diversão e informação em um mesmo suporte midiático. O que antes parecia coisa do outro mundo agora já conta com novos adeptos. Já não estamos mais sozinho na Galáxia dos NewsGames.

Em artigo publicado em 2008, Luiz Adolfo de Andrade, da Universidade Federal da Bahia, faz menção a Palácios (2003), a quem coube a ilustre tarefa de definir as seis características do webjornalismo. São funções que, segundo Andrade, podem ser percebidas também sob a lógica dos NewsGames. A multimidialidade (1) é notada na convergência entre imagem, som, narrativa escrita na forma de jogo e criada a partir de uma notícia.

A interatividade (2) pode ser sentida no contato do usuário com o newsgame, quando ele reconhece prazeres inerentes às histórias narradas nos jogos. A hipertextualidade (3) é o fator que permite direcionar o leitor de jornais eletrônicos para o ambiente lúdico. A personificação (4) permite que o usuário crie jogos a partir de noticiários, segundo seu ponto de vista sobre o tema. A memória (5) pode ser ativada quando o usuário se lembra da notícia no jornal, fazendo com que procure o formato de game em busca de outra forma de consumo da notícia.

Por fim, a instantaneidade do acesso (6) que permite que fatos jornalísticos sejam atualizados no formato de jogos. Além das seis características apontadas por Palácios, acrescentamos a Ludicidade Imanente do Meio (7). Essa nova função permite associar os newsgames ao gênero diversional ou de infotenimento, um diferencial inigualável quando comparado aos demais gêneros jornalísticos (informativo, interpretativo, opinativo) e a outros formatos de produção, circulação e consumo de notícias na web.

Informação sob a mira do microscópio

Antes mais nada é preciso definir o que é informação para percebê-la nas (entre) interfaces dos videogames. A origem da palavra é latina (informatione). Segundo o Dicionário Michaelis (2000), informação [é o ato ou efeito de informar, transmissão de notícias; comunicação; ação de informar, instrução, ensinamento, transmissão de conhecimentos; indagação; opinião sobre procedimento de alguém; parecer técnico dado por uma repartição ou funcionário; investigação ou inquérito].

Parece-nos razoável definir “transmissão de conhecimentos”, como sinônimo de informação. Contudo, é um erro encarar a informação subjacente às narrativas dos videogames como fazíamos ao pesquisar o universo das bactérias. Antes do advento do microscópio, os germes existiam além de nossas limitações perceptivas.  A consequência disso todo mundo sabe. O fato é que o virtual (invisível) repercute, implacavelmente, na vida real, mesmo que não nos demos conta dele.

No caso dos jogos, a informação sempre esteve presente na sua narrativa. De um simples jogo de cartas ao emocionante game de tiro Counter Strike. De forma explícita ou não, a informação sempre pautou os jogos desde os seus primórdios. Claro, há narrativas de jogos muito mais informativas que outras. De forma geral, os jogos de ação possuem menos informação descritiva na tela em comparação aos jogos de RPG.

Então, qual é a questão a se ponderar agora? Na verdade precisamos rever nossos conceitos em relação à ‘ditadura’ da cultura escrita. Como a nossa sociedade foi formatada há mais de 600 anos pelo livro, é compreensível a dificuldade de encarar o joystick como uma caneta digital dos novos tempos. Afinal, ainda percebemos como informação tudo aquilo que é descritivo. Ledo engano!

Para a maioria das pessoas ainda é difícil perceber através de uma série de imagens dinâmicas um roteiro descritivo à priori. O que muita gente não sabe é que o nosso cérebro lê informações descritivas apenas como imagens. Após ser percebida, toda informação escrita é transformada em imagens. Não por acaso, memorizamos mais e melhor quando transformamos em imagens uma massa muito grande de conteúdo descritivo.

Os 4 pilares da Teoria dos Newsgames

O Jornalismo 4.0 baseado na Teoria dos NewsGames é formatado em suportes lúdicos de comunicação, alicerçado em 4 pilares fundamentais: games, rede sociais, mapas e notícias. Em 2002, a infografia digital fincou as bases do jornalismo de quarta geração, ao misturar texto e imagem dinâmica. A iniciativa permitiu o advento dos games on-line baseados em notícia ou acontecimentos em tempo real. A edição de notícias em suportes de jogos abre um novo capítulo do jornalismo como último baluarte do espaço público.

Esses quatro pilares sustentam o argumento que encara a possibilidade dos games como notícia cartografada. Ou seja, o usuário é convidado a ser coautor na produção de notícias, utilizando, como tabuleiro de jogo, um visualizador de dados com tecnologia de geoprocessamento via satélite. Ao se redigir um post a partir de uma notícia-tema, o texto escrito é transformado em animação de jogo, automaticamente.

Uma vez criada a interface narrativa, cada jogador poderá propor cossoluções para problemas reais apontados na notícia que deu partida na ignição do jogo. A escolha do assunto se dá de acordo com o tema noticioso que os jogadores estiverem pessoalmente envolvidos. No mercado existem iniciativas de games informativos, mas ainda distante da proposta narrativa defendida pela Teoria dos NewsGames. Sobre a ‘inconvencionalidade’ atribuída aos newsgames, Einstein diria que o medo rouba sonhos.

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[Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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