Os homens que compram

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Aprender, fazer curso, viajar, ir na Nasa, no MIT, em Cupertino, Berlin ou Kyoto, ler Lacan, Jerome Lanier ou Machiavel, trocar e-mail com Al Gore, Pamela Anderson ou Ariano Suassuna, jantar com FHC, beber com Ronaldo, posar para o Testino, frequentar a Barneys, a L’éclaireur ou o atelier da Rei Kawakubo, tudo isso e também colecionar Jeff Koons, Yves Klein ou Adriana Varejão, tomar Aperol em Capri, Bellini em Veneza ou Taittinger em Goiania, no Morumbi ou em Alphaville-1-sim-senhor, depois passar 8 horas em conference-call com espalhados apátridas discutindo o futuro da marca de cerveja mais icônica, desejada, milionária, criativa, hipster, campeã dos botecos e redes sociais, das praias e power points, tudo isso, se compra.

É só pagar que você tem, é só pagar que você consegue comprar a fama, a sua e a da cerveja.

Esse topo da hierarquia tem suas variações, evidentemente. Mas que seja em Berlim ou na Barra Funda, que seja FHC ou o Presidente da Associação das Revendedoras Monavie, Capri ou Fortaleza, o lado é o mesmo, o lado daqueles que preferem comprar.

Compram tudo e tudo que compram é o que lhes dá valor. Compram até o incomprável, amor, fé, coragem, ideia.

Se você se sente um pouco perturbado, enciumado, frustrado, diminuído, se você se sente humilhado e muitas vezes tem vontade de sair batendo e cuspindo na cara dos arrivistas, se você é daqueles que não aguenta mais tanta citação, tanta prepotência e falta de educação, se você é daqueles que enjoou de siglas e anglicismos, se você é daqueles que sente pena dos homens-crachá que compram o que sabem e vendem o que cagam, então confie em algo que eles não tem, nunca terão, mal sabem que não têm.

Essa coisa que eles não tem se chama drible. Drible no pisado, cagado, vomitado.

Deixa falar. Deixa arrotar. Deixa perorar. Deixa até excitarem-se e gozarem. Faça cara de sedução, compaixão, beba com interesse o shopping center de sabedoria.

Quando terminar, silencie. E dessa eloquência serena, faça seu drible de pessoa normal, simples, burra e pobre. Faça uma apreciação ligeiramente idealista, anárquica, fora de contexto, um iluminado na fogueira do auto-da-fé, em transe pré-mortem. Esqueça do que estavam falando, volte lá atrás, pense naquilo que de mais básico poderia haver e expresse-se com o coração. Ele não mente. Drible com o coração aquele falatório porque o que vem do coração não tem preço. O que vem do coração, eles vão querer comprar também. De você. [Webinsider]

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Fernand Alphen (@Alphen) é publicitário. Mantém o Fernand Alphen's Blog.

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