Assassinos da Lua das Flores: mas por que tão longo?

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Assassinos da Lua das Flores, film de Martin Scorcese, dura longas três horas e meia

Assassinos da Rua Das Flores é um dos mais recentes filmes do icônico cineasta Martin Scorsese, dura cerca de 3 horas e meia, e é, pelo menos para mim, incompreensível uma estória dessas durar tanto tempo.

 

Tendo assistido tantos filmes do cineasta Martin Scorsese no passado, eu perdi a noção da sua importância como realizador de filmes. Primeiro, não me agradou a sua versão de “O Irlandês”, para o Netflix, inundado de personagens criados por CGI, e agora, eu penei para assistir a maratona de quase três horas e meia de “Assassinos da Lua das Flores”, tão longo quanto o anterior.

Eu já não sei mais se é falta de paciência da minha parte, mas por enquanto eu sinto a necessidade de encarar esses filmes como roteiros de duração excessiva, sem falar no fato de que são ambos, Irlandês e Assassinos, assuntos paroquiais, ou seja, com relação quase exclusiva aos problemas sociais e políticos norte-americanos. Filmes desse tipo podem perfeitamente transcender fronteiras, mas desde que as abordagens adquiram um lado mais, digamos, universal do que local. Não sendo assim, a nós mortais do outro lado do planeta só restaria, creio eu, aprender um pouco da história de um país que não é o nosso.

No caso específico de Assassinos, a estória gira em torno de índios da raça Osage, os quais descobriram petróleo na terra que lhes foi destinada, e ficaram ricos. O enredo objetiva mostrar com clareza como o dinheiro e a ambição pela riqueza fizeram o povo Osage ser explorado, assassinado, e levado à beira da extinção da raça.

O problema é que filmes excessivamente longos como esse demandariam cenas de interesse, para manter a plateia cativa, mas não sendo o caso, a narrativa se torna automaticamente maçante e dura de enfrentar.

Em Assassinos, os justiceiros são investigadores do FBI, que vão até o local para desvendar porque as mortes dos índios não foram devidamente esclarecidas. A partir daí, o script explora a corrupção e a apropriação financeira das famílias indígenas, usando artifícios escusos e corruptos de tudo quanto é tipo.

O cineasta Martin Scorsese

Para quem não o conhece, basta dar uma lida na biografia de Martin Scorsese, para entender a sua importância como cineasta do cinema americano contemporâneo.

O cinema americano mais antigo controlava com mão de ferro o trabalho de produtores, diretores e atores, principalmente durante a sua época mais áurea de Hollywood, um esquema de produção em massa, que ficou conhecido por “studio system”. É bem possível que a perda de bilheteria, aliada à presença de um público mais jovem nos cinemas, acabou por resultar em mais liberdade de criação por parte dos cineastas igualmente mais jovens. E, notem, sem nenhum deles ignorar ou repudiar tudo de bom que os cineastas mais velhos fizeram.

Cineastas mais jovens emergiram principalmente de universidades da California, e eles competiam entre si, no sentido de correr atrás de uma linguagem mais voltada ao cinema pessoal de qualidade. Na Europa, esta coisa de cinema comercial já havia sido superada, em movimentos como, por exemplo, a Nouvelle Vague, ou em países como a Suécia, Itália, etc., cujos cineastas se preocupavam muito mais com a qualidade dos seus filmes do que com o lucro advindo do mercado exibidor.

Foi por causa disso, inclusive, o cinema Europeu ficou cunhado entre nós como “cinema de arte”. Aqui no Rio de Janeiro, a empresa Franco-Brasileira e o pessoal da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) foram algumas das principais entidades ligadas à este tipo de exibição. Que eu me lembre desta época, nunca houve discriminação na origem dos filmes. Falando em Scorsese, por exemplo, Taxi Driver foi exibido no Tijuca-Palace, da Franco-Brasileira.

Estudando a mudança americana, ficou bastante evidente verificar a influência do cinema de arte europeu em vários cineastas desta nova geração. Martin Scorsese, além de estudioso, foi um dos principais responsáveis pelo movimento de restauração dos filmes de catálogos, que estavam apodrecendo nos arquivos dos grandes estúdios. E a sua atuação serviu de exemplo para alertar todo mundo que o cinema antigo estava desaparecendo, e precisava ser resgatado.

Por causa da importância de Scorsese como um scholar e preservacionista, quem seria eu para fazer crítica a seus filmes mais recentes? Na minha época mais fanática de filmes de arte eu também tive que aturar enredos monótonos e de pouca compreensão a quem assistia. Eu fiz um curso de cinema nesta época, e os professores insistiam que a gente tinha que assistir de tudo, e ter paciência para entrar em um cinema de arte e ficar lá sentado até o filme acabar. Eu confesso que, em muitos desses momentos, me faltou a paciência recomendada, e eu tive muita vontade de ir embora. Mas, em alguns filmes eu acabei descobrindo coisas maravilhosas, e, portanto, os meus professores tinham razão.

Bem verdade que eu passei tudo isso na adolescência, onde me faltou maturidade e vivência para acompanhar mensagens crípticas de cineastas que não estavam nem aí se a plateia iria acompanhar o filme ou não. No lado americano, Kubrick fez isso em “2001, Uma Odisseia no Espaço”, cujo fim era críptico e ele se recusou a dar satisfação a quem da imprensa lhe perguntasse o que aquelas cenas significavam.

Hoje em dia, infelizmente, a idade me pesa muito, e assim assistir 3 ou mais horas de filme é muito penoso. Assassinos da Lua das Flores foi duro de assistir. Quisera eu voltar aos meus tempos de cinema de arte, talvez eu tivesse infinitamente mais paciência! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Pois é, Paulo. Por aqui o exibidor ainda não programou esse filme. Caso resolva programar, não irei ver. Como já comentei, só cópias dubladas. Como você citou a duração é de lascar. Caminhando para os oitenta janeiros já fica cansativo. Costumo afirmar para os amigos que em duas horas dá para contar uma boa história. É isso.

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