De idéia a projeto real, como dar o salto quântico

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Volta e meia um amigo me telefona para me contar sua mais recente idéia mirabolante para ficar rico. Não tenho nada contra idéias mirabolantes, conheço várias que deram certo, se transformaram em projetos viáveis, encontraram patrocinadores e foram realizadas. O problema não é com as idéias.

Idéias são ótimas. O problema é com a atitude das pessoas. Meu amigo – como vários outros amigos já fizeram – apenas me sugere ao telefone a beleza mística de sua idéia. Eu escuto até o fim – como sempre faço – e quanto ele termina de falar, começo a fazer perguntas com toda a calma:

– Já verificou tudo que é necessário para a execução da sua idéia?
– Já planejou como realizar essa idéia?
– Que expertises serão necessárias?
– Quantas pessoas serão necessárias na realização?
– Qual é o orçamento necessário para realizar essa idéia?
– Qual o cronograma necessário para concretizar o projeto?

Meu amigo, como todos os outros amigos antes dele (com raras exceções), suspira e interpreta as minhas perguntas como sendo “má–vontade” ou “incredulidade” minha e termina o telefonema dizendo “pense na minha idéia”.

Interessante como algumas coisas ainda não mudaram no Brasil. Não é suficiente ter uma idéia e contá–la para as outras pessoas. Contar idéias é coisa de bate–papo de bar, em volta de garrafas de cerveja. Realizar idéias é muito diferente: é algo a se fazer com o computador, a calculadora e o telefone à mão, fazendo pesquisas, contatos, orçamentos, planejamentos. Não adianta ter uma idéia na mão e uma câmera na cabeça. Só isso não leva a lugar nenhum e o dono–da–idéia será mais um frustrado que irá dizer, nas rodas de bate–papo com cerveja, “puxa, eu tive uma idéia sensacional mas ninguém quis realizar”.

Ontem quando eu voltava para casa passei por um outdoor que alardeava sobre um curso de “como abrir sua empresa” e uma faixa de rua que anunciava cursos de “empreendedorismo”. O brasileiro PRECISA desses cursos. É interessante notar quantas pessoas abrem empresas sem nem saber quais impostos precisam ser pagos ou quais os custos mensais obrigatórios. Acham que empresas são “máquinas de emitir notas fiscais”.

É interessante perceber que as pessoas não têm a mínima noção de empreendedorismo.

Não é culpa delas, veja bem. O Brasil tem uma história de centenas de anos de pensamento e ideologia anti–empreendedorismo. Os primeiros estrangeiros que desembarcaram por aqui vieram explorar, pegar o máximo que pudessem, enfiar na bagagem e voltar para a casa deles, do outro lado do oceano. Nenhum deles queria se assentar e viver aqui, embora muitos tenham assentado e vivido por aqui o resto da vida. Os primeiros estrangeiros que vieram para o Brasil com a firme intenção de ficar morando por aqui foram os imigrantes pós–libertação dos escravos. Até então ou vinham para explorar e voltar para casa ou eram trazidos contra a vontade para ser escravo!

Com uma cultura tão tradicionalmente colonialista e escravagista, não me admira as pessoas ainda hoje não saberem nada de empreendedorismo. Fomos todos educados para ser funcionários, obedecer ordens e não ter opinião própria. Só recentemente as pessoas começaram a acordar para o problema: sem o tal “empreendedorismo” o país não vai a lugar nenhum, será sempre uma eterna monocultura de soja, laranja ou qualquer outro produto agrícola – como já foi monocultor de cana, algodão, café. Não sairemos da pré–história colonial sem empreendedorismo.

É por isso que eu sempre faço as tais perguntas que aborrecem meus amigos com suas idéias. Porque é preciso pensar em empreendimento, não apenas em idéia. Idéias todos têm. Nem 1% delas se transforma em um empreendimento viável.

Para fazer o salto quântico de uma idéia abstrata e sonhadora para um projeto em pleno andamento, é necessário pensar nessas coisas chatas como orçamento, planejamento, investidores, viabilidade de execução, necessidades logísticas e materiais. Todas essas palavras e conceitos de contadores, economistas e outros profissionais chatos.

O brasileiro não quer ter essas “profissões de chatos”. Quer sempre ser “artista” e “artistas” não pensam em números e menos ainda em dinheiro. Artistas apenas têm idéias mirabolantes e criativas. E é por isso que no Brasil existem tantas idéias geniais e tão poucos projetos realizados.

O brasileiro precisa começar a deixar de ser só artista e começar a ser mais matemático, financista, economista. Porque não existe projeto concreto sem essas coisas. Por mais chatas que sejam, são elas que transformam sonhos em realidade. [Webinsider]

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Avatar de Daniela Castilho

<strong>Daniela Castilho</strong> (teatime@havesometea.net) é artista plástica, designer, ministra aulas de direção de arte em cinema e mantém um <strong><a href="http://www.havesometea.net/" rel="externo">blog</a></strong>.

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9 respostas

  1. Nos brasileiros somos bla bla bla bla, os brasileiros bla bla bla bla, entao o brasil bla bla bla é ruim. Cara, nao vejo UMA pessoa sequer ter um pensamento positivo. Brasileiro ja tem uma visao podre de si mesmo, como se um europeu ou americano tambem nao tivessem feito cagadas antes de chegarem onde estão. Pelo amor pessoal, se liga quem arrisca nao petisca.

    Vejam o Silvio Santos, um magnata brasileiro sem estudo é dono de uma rede de televisao, e ai? Sorte? Estudo? Tantas pessoas estudam e sao levadas ao fracasso. Entao o q tem q haver em cada um é o espirito de vencedor seja qqer lugar onde voce nasceu.

    Tem tanto filho de burgues que só presta pra fumar maconha enqto muito favelento consegue algo na vida… sabe pq? Pq ele lutou e nao ficou sentado sonhando imaginando o que fazer.

    Antes de tudo, saibam que europeus e americanos vivem na mesma terra que a gente, quase com as mesmas dificuldades e com os mesmos fracassos, o problema é que hoje todo mundo é puxa saco de pais de primeiro mundo.

    Eu sou brasileiro, estudei, entendo muita coisa e tenho consciencia que tenho muito mais a aprender… mas de uma coisa tenho certeza: Nao é a nacionalidade que faz a pessoa. Pensem bem antes de sair escrevendo besteiras.. blz?

  2. Daniela,
    concordo com o Danilo, tudo certo!

    Vivo esse dilema no atual momento, havia pensado em tudo o que disse em seu texto( as perguntas ). Ha dois dias atrás pensei em formalizar tudo aquilo. Porém estava com dificuldade pois não havia escrito perguntas e sim as respostas sem ordem alguma. Gostaria de agradecer pelo artigo e informar que foi de grande utilidade para a organizaçao e para o possivel sucesso do meu projeto.

    Abraços,
    Mando Noticias!

  3. Daniela,

    Como você mesmo disse em seu comentário, nós – brasileiros – necessitamos refletir não apenas esse tópico de empreender, porém, em qualquer ação que tomamos. Penso que sem conhecimento, sem a sede por novos conhecimentos, pelo superamento, não vão caminhar a lugar algum.

    Quem não quer projetar, idealizar e gerar frutos (LUCROS)?! O problema é o puro COMODISMO.

    Eu por um tempo me enquadrei nesse papel de amigo que liga para os outros para contar de alguma idéia genial que – quem sábe – poria gerar grandes frutos…

    Sem mais, creio que precisamos aprender muito ainda.

  4. EU SEMPRE TIVE MUITAS IDEIAS, E ATE JA MATERIALIZEI ALGUMAS MAS O QUE PROCURO E FICAR TRANQUILO FINANCEIRAMENTE… ESSE E O MEU LADO AGORA VAMOS AO SEU ACHEI TD AQUILO QUE VC ESCREVEU DE TAMANHA CERTESA QUE AGORA LHE PERGUNTO: VC JA SEGUIU TODOS OS PASSOS PARA REALIZAR SUAS IDEIAS??? EU JA. E SO ESTOU LHE PERGUNTANDO PQ TD Q VC ESCREVEU FAZ TODO SENTIDO.
    GRANDE ABRAÇO
    E PARABÉNS….

  5. Primeiro, obrigada pelo comentário. Segundo, desculpe mas você está errado. Eu descendo de estrangeiros, de várias vindas. Descendo de portugueses, holandeses, indígenas, africanos, italianos. A minha família de ambos os lados, é muito misturada. Quem fala assim, como você diz, não fala assim porque descende de estrangeiros, mas porque conhece História do Brasil. Você toma como preconceito um fato: o de que o Brasil foi colonizado por estrangeiros que tinham como objetivo explorar a terra e não desenvolvê-la.
    Nâo ofenda a minha inteligência, por favor. Procurar ofender o articulista chamando-o de nomes – como xenófobo, por exemplo – é um dos recursos mais velhos e usados do discurso de retórica Aristotélico, assim como procurar amenizar a ofensa elogiando no final – e eu não vou cair nessa.
    E poupe-me dos clichés.
    O artigo não pretende motivar – já temos Shiniashikis suficientes fazendo isso – e sim, provocar reflexão.
    Pense em tudo isso, no que eu escrevi originalmente, no seu comentário e na minha resposta.
    Um abraço
    Daniela Castilho

  6. Os primeiros estrangeiros que desembarcaram por aqui vieram explorar, pegar o máximo que pudessem, enfiar na bagagem e voltar para a casa deles, do outro lado do oceano.

    Quem fala assim só pode ser ou descendente do nativo pré-Brasil ou alguém que vive na terra há pelo menos 500 anos; você fala dos estrangeiros como se não fosse um, quando na realidade os Silvas, Pimentas, Cardosos, Souzas, Morales, Castilhos, Fitipaldis, Heinz ou Smiths do Brasil acabam por ser, no seu âmago estrangeiros, ou não? Esse pensamento de cariz xenófobo é desaconselhável por incitar sentimentos danosos.
    Vivemos uma era que precisa urgentemente da unidade dos povos para que problemas como a fome e a guerra, (sei que parece cliché, mas é certo) sejam amenizados. Trabalhar para um mundo melhor é uma obrigação para todos nós.
    E parabéns pelo artigo: Palavras de ânimo e de motivação: PRECISAM-SE!

  7. Parabéns pelo artigo. Pois apesar de ser bastante realista, ainda assim, é uma grande injeção de ânimo nos sonhadores artistas brasileiros como eu.

  8. O brasileiro precisa começar a deixar de ser só artista e começar a ser mais matemático, financista, economista. Porque não existe projeto concreto sem essas coisas. Por mais chatas que sejam, são elas que transformam sonhos em realidade.

    Não acho que realmente o brasileiro precise… O melhor empreendimento do mundo não é capaz de te levar ao céu!
    Abraço.

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