Eletrônicos e informática pela metade do preço?

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Um projeto polêmico, para dizer o mínimo, circula entre os corredores dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento. Trata–se de um estudo para reduzir drasticamente as alíquotas (taxas) de importação dos produtos industrializados que entram no Brasil, uma iniciativa que pode cortar os preços de eletrônicos e materiais de tecnologia e telecomunicações. Na última ponta, diminui o valor pago pelo usuário final para comprar um computador e outros acessórios, visto que quase tudo do setor é importado.

O projeto ainda não virou lei, mas o Ministério da Fazenda confirma o estudo e a intenção de levá–lo a discussão na Organização Mundial do Comércio. O impacto é direto. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, a proposta pode reduzir em até 50% a tarifa externa comum (TEC) aos produtos importados de países desenvolvidos, ou seja, quase tudo relacionado ao mundo da informática. A TEC é a tarifa comum usada pelos países do Mercosul e a redução pode soar como música aos ouvidos dos Estados Unidos e da Europa, de onde vêm a maior parte das importações para o Brasil.

Saab, no entanto, é radicalmente contra o projeto. “A proposta pode prejudicar fortemente a competitividade do setor eletroeletrônico, abrindo o mercado para produtos fabricados em países que oferecem benefícios e incentivos à sua indústria, sem qualquer contrapartida para a indústria aqui instalada e no momento errado”, explica, reforçando que a entrada de produtos a preço mais barato pode gerar desemprego. A opinião é compartilhada, oficialmente, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e por boa parte do empresariado nacional.

Embora sejam contra em uníssono à proposta da Fazenda, os benefícios na economia também poderiam surgir em um terreno até hoje inóspito ao Brasil: o contrabando. É de conhecimento geral que, no Brasil, o contrabando em informática representa boa parte do mercado “cinza”, com placas e periféricos entrando no País de forma ilegal. Analistas de mercado e economistas explicam que não haveria tanto motivo para contrabando se os impostos caíssem, beneficiando o sistema econômico e dando mais segurança aos consumidores.

Taxas poderiam ser diferenciadas

Os representantes da indústria não acreditam em benefícios com a redução drástica do imposto de importação, até porque os Estados Unidos e a Comunidade Européia defendem a inclusão do setor eletroeletrônico na negociação da Organização Mundial do Comércio (OMC, órgão das Nações Unidas) prevendo até mesmo tarifas zero a zero. Em outras palavras, eliminar toda e qualquer taxação para o ingresso de produtos vindos outros países.

“O governo aceita abrir totalmente o mercado interno, ao invés de buscar condições que garantam o acesso da indústria brasileira a novos mercados e permitam reduzir o Custo Brasil de forma sustentada”, rebate o presidente da Eletros, Paulo Saab. Para ele, o País ainda precisa avançar em reformas estruturais, de financiamento, políticas industrial, comercial e externa. Saab defende ainda uma redução gradativa e fracionada e reclama que o Governo não ouviu setores da indústria antes de sondar o envio do projeto à OMC.

Enquanto a indústria reclama, as empresas que lidam diretamente com importação e venda de produtos eletrônicos e de tecnologia podem se beneficiar bastante de um imposto reduzido, o que é bom para o usuário final que vai à loja comprar peças e computadores. Esta é opinião do professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ricardo Chaves, que também é a favor de uma redução diferenciada do imposto.

“Temos condições de competitividade muito ruins, carga tributária (impostos/ taxas) violenta, más condições de distribuição e logística. Evidente que abrir ainda mais o mercado para competição externa representa uma dificuldade a mais para a indústria nacional”, explica. “De forma breve, para o consumidor é bom e para o empresário é ruim”, completa.

Quase 60% do valor só de taxas

Ao reduzir a alíquota de importação, a mudança imediata é o preço menor na tabela das lojas. Ao comprar um computador, o usuário estaria adquirindo um produto industrializado que foi taxado menos e, por conseguinte, com um custo menor à montadora, fabricante e revendedora. De acordo com uma pesquisa da consultoria IDC, o gasto com os componentes do PC, quase todos importados, representa 59% do custo total. Ou seja, mais da metade do computador vem de fora.

Não à toa, os preços de placas e periféricos de computador, em sites de comércio eletrônico fora do Brasil, são tão mais baratos – mesmo após a conversão do dólar/euro para real. Uma das lojas de informática do Recife figura entre as maiores empresas importadoras de Pernambuco em 2004 (faixa de US$ 1 milhão), segundo relatório oficial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Procurados pela reportagem, os donos preferiram não divulgar nome, mas foram enfáticos ao reafirmar a abusiva incidência de impostos de importação, entre outras taxações. Eles acreditam que reduzir a alíquota, além de aquecer o comércio e dar mais opções ao consumidor, também reduziria muito o contrabando existente.

Brasil: um dos impostos mais altos do mundo

Deveria transitar em sigilo, mas o projeto do Ministério da Fazenda vazou e a confusão foi armada. São duas propostas em análise: uma da Fazenda e outra do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Oficialmente, os dois ministérios afirmam em nota que, por enquanto, há apenas a discussão interna no governo. Somente na reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex) será definida uma linha de convergência para as duas propostas.

Para analistas, no entanto, o Brasil está em um caminho sem volta para abrir um pouco mais a economia aos produtos importados, reduzindo as alíquotas. E a explicação é simples. Com um dos impostos de importação mais caros do mundo, se o País não ceder será muito difícil conseguir qualquer vantagem no grande acordo que está sendo costurado por 148 países associados à Organização Mundial do Comércio (OMC), como forma de aquecer a economia.

O Governo já sinalizou que precisa ampliar o acesso das exportações agrícolas, as quais estão, hoje, bastante prejudicadas por conta de barreiras tarifárias e não–tarifárias dos países desenvolvidos, sobretudo Estados Unidos e Comunidade Européia. Então, no final das contas, é uma relação de troca: eles cedem lá e a gente cede cá. No caso, diminuindo um dos impostos que mais afetam os países ricos, visto que são eles que mais exportam produtos industrializados para o Brasil.[Webinsider]

Com Folha de Pernambuco

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Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.

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7 respostas

  1. É pouco credivel que essa lei saia. O Brasil esta por demais dependente do excesso de taxas e impostos. No brasil nao se pratica o principio mundial de que vender barato e vender muito e o governo arrecadar bastante. O Brasil tem preferencia por arrecadar bastante do pouco que comercializa. Quem acaba pagando o pato e o cliente final que ou nao tem poder de compra para acessar os bens da evolucao e da tecnologia.
    E uma visao um tanto obscurantista e retrograda, mas e a que temos.

  2. Prezado Paulo Rebêlo

    Você saberia informar qual é a aliquota atual para inportação de equipamentos para informatica, peças para computadoers, monitores de LCD, Draves, etc..
    Antecipadamente agradeço.

  3. com certeza iria beneficiar milhares de pessoas no nosso pais e iria promover a inclusao digital a todas as pessoas do nosso pais, atraves dessa reduçao, fazendo com que mais pessoas tenham acesso a um computador, que ainda continua a preços inacessiveis a muitas pessoa de baixa renda e iria forçar as industrias a investir mais em tecnologia para poder competir com o mercado internancional………..

  4. Cara seria muito se isso acontecer, passei um tempo nos estados Unidos e pelo que eu vi cerca de 97% da populaçao americana, tem computador, não deixa eu me corrigir cerca de 95%da populaçao tem notebook.
    Vendo isso podemos levar em conta que o nosso país esta muito atrasado em relaçao a outros paises, ate quando isso vai acontecer, acho que a informatica é um direito de todos, pois temos a internet com uma gama de informações culturais para nosso povo.
    Vamos lá colocar isso pra frente!!!!!!!!

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