Há uma grande euforia nos mercados ligados à internet, comunicação, marketing, tecnologia da informação com o que aparenta ser o renascimento da rede, a Web 2.0.
Destacam os arautos da novidade que tudo isso se apóia na força das comunidades, na geração de conteúdo pelo usuário, na colaboração. E que tudo isso é muito surpreendente.
Ninguém ousa discutir a relevância das comunidades, da colaboração, da participação do usuário. Mas dá para discutir sim a idéia do renascimento da internet e a conseqüente postura de surpresa.
Não há nenhum renascimento da internet, visto que ela não morreu. De fato, o que está ocorrendo é a libertação da internet, em direção a sua real vocação, anárquica, participativa, cada vez mais o sistema nervoso central do planeta.
A internet veio tão forte, tão imprevisível, tão rápida que velhos modelos autocráticos se apropriaram dela. O modelo da informática, que gerou mega fortunas mundiais, ao vender pacotes de software a preços esbulhantes e que tentou impor padrões semelhantes na web.
Muitas empresas adquiriram softwares gerenciadores de conteúdo, por exemplo, por milhões de dólares. Hoje produtos equivalentes são open source, recebem dezenas de novos desenvolvimentos espontâneos diariamente e estão ao alcance de um clique (gratuito)!
Também tomou conta da internet nos seus primeiros anos o velho modelo de enriquecimento fácil da propaganda. ?Eu te interrompo, eu te perturbo, eu passo a minha mensagem (linda, criativa, já ganhei tantos prêmios), você compra o produto que eu anuncio (ou não, tanto faz desde que eu leve o meu BV)?.
É nós aturamos muitos pop-ups, banners chatos, superstitials engraçadinhos e assim vai…
Porém quem ?arrebentou a boca do balão? foi o Google. Seu design criativo é nenhum, mas ele está sempre lá quando precisamos. Perguntamos e ele responde. Educada e gentilmente, ele anuncia ao lado do resultado principal da resposta as nossas perguntas. E mais, o anunciante só paga (e pouco, per capita), quando alguém de fato se interessa pelo anúncio ao clicar nele.
O bebê internet foi presa fácil da autocracia da propaganda e da indústria de IT. Porém o bebê cresceu, arrebentou as correntes, e está obrigando os velhos barões a se modernizar, se adaptar, para não morrer.
A internet de hoje reencontra seu destino. Vai ao futuro para retomar o curso original do seu passado. Antes da web, nos anos 70 e 80, a internet, que ?não era multimídia?, que não era ?Windows-like?, era essencialmente colaborativa. Seu propósito era a troca de informações entre universidades, centros de pesquisa e estudantes ? visava a troca de conhecimento, a formação de círculos virtuosos de cooperação para se aprender e fazer novas descobertas mais rapidamente.
Sua apropriação pelos capitais de risco gerou a repetição de velhos modelos autoritários de gestão da informação e de marketing/comunicação em uma nova mídia, eletrônica.
Entender, porém, a internet como uma nova mídia é uma visão limitada e limitante. Quem assim vê é quem fala em surpresa.
A internet é, de fato, um outro paradigma. Nunca tivemos nada igual na história do homem.
Em termos sociológicos, potencializa a expressão e liberdades individuais como nunca antes se havia visto. Veremos ainda muitas lutas de governos ditatoriais e corruptos contra ela.
Em termos de informática, ela realiza o velho sonho dos inventores e idealizadores da computação de colocar tal capacidade na mão de todos os seres humanos. Curiosamente, não será através dos computadores e sim de aparelhos de telefonia celular que isso vai ocorrer.
Em termos de marketing e comunicação a internet também realiza o sonho dos precursores. Estabelecer a verdadeira comunicação um a um e saber realmente o que o potencial cliente/consumidor pensa e deseja. Marketeiro que tem medo da internet, de fato, nunca foi marketeiro. Foi só um oportunista.
Tecnologia da informação e marketing, sempre tão distantes, estão fazendo matrimônio na internet, por força dos clientes e não das indústrias que controlam estes dois segmentos.
Renascimento? Surpresa? Nada. Ao continuar a crescer para o futuro, a internet voltou ao passado. Sorte nossa. Azar dos reacionários. [Webinsider]
.
Edson Dacal
<strong>Edson Dacal</strong> é diretor presidente da <strong><a href="http://www.basics.com.br" rel="externo">Basics</a></strong>
8 respostas
Otimo post,
estou escrevendo no meu blog uma serie de posts sobre o mesmo assunto, quem quiser dar uma olhada é so acessar…
http://futureadvertising.wordpress.com/2009/06/23/o-futuro-da-internet-no-brasil-?-parte-1/
Espero que gostem, até mais…
eu acho que a internet e igual a os numeros porque os numeros sao infinitos e isso e o mesmo com a internt .porque cada vez mais ela vai sendo atualizada , e sendo atualizada ela vai cada vez mais se evoluindo.
Artigo nota 10 é isso aí: conteúdo rico, inteligente, escrito de forma gostosa. Parabéns, meu amigo.
Concordo contigo: quem se apaixonou, lá atrás, pelo mundo em rede sempre viu a característica colaborativa, capilar e democrática dele como os principais apelos – você tem toda razão.
Mas para o grande público, leigo, que só mais recentemente incorporou a internet no seu dia-a-dia, o ar de novidade é maior.
Fato é que, se o movimento em torno de novas buzzwords (como Web 2.0, Enterprise 2.0, PCC, etc) ajudar a colocar em evidência esse cerne colaborativo, antes solapado, que venham – para nossa felicidade.
[]s,
Saldanha
Legal, Dacal.
Acredito que o potencial colaborativo faça parte da ebulição comportamental que descreve o sucesso da Internet. No entanto, penso que só atingirá seu nível máximo quando for percebido pelas empresas como ferramenta estratégica essencial.
Marketeiro que tem medo da internet, de fato, nunca foi marketeiro. Foi só um oportunista.
Que venha a oportunidade.
Abraço.
Eu já compartilho 100% da idéia do Dacal.
A internet está cada vez mais colaborativa, independente do tipo de conteúdo gerado, um conteúdo massificado ou raro de achar, tudo vai depender de quem procura e o que procura.
Quanto aos assuntos relevantes X assuntos massificados ficam as perguntas: O que é relevante? E para quem é relevante? E quando é relevante?
O conteúdo está aberto para todos, adquirirem, palpitarem, e se não gostarem, partir para o Do It your self.
Voltando à relevância, na minha opinião, não é o assunto ou conteúdo que o torna relevante mas como ele é gerado. Qual a qualidade do que é colocado pelos colaboradores?
Vc pode ter um conteúdo aparentemente relevante e interessante, mas ser mau escrito, sem fundamento, superficial ou simplesmente cópia.
Creio que estamos cada vez mais abertos sim, o importante é qualificar o que disponibilizamos, seja algo raro, algo para a massa, torná-loa apresentável e degustável. Tornar a experiência de quem usa/procura satisfatória, seja ao ver um vídeo do tapa na pantera ou procurando um artigo acadêmico sobre o início da história da música em Bonn na Alemanha.
Mas como o Diego mencionou, é bom termos visões diferentes sobre o mesmo assunto;)
[]s a todos
Kadu
Diego, num veículo colaborativo e *coletivo*, o controle é fundamental. Listas de discussão, wikis e outras ferramentas cooperativas são assim, e a confusão entre censura e moderação às vezes ressurge, mas deve ser vista com ressalvas. Porém, isso não invalida o que o Edson escreveu. Na internet, você consegue facilmente um espaço pra produzir seu conteúdo. E, neste espaço, é você quem manda e controla o que escreve/grava/reproduz. A censura só virá se o próprio autor quiser exercê-la, mas será sobre ele mesmo.
Curiosamente, não será através dos computadores e sim de aparelhos de telefonia celular que isso vai ocorrer.
Bem…celulares, hoje, são, efetivamente, computadores…
Thiago
Eu acho sim, como vc falou, que a internet oferece essa imensa quantidade de meios de expressao individuais, afinal, temos blogs, fotologs, flickrs, youtubes etc!
Mas eu nao concordo com essa sua visão completamente otimista de que a internet eh um meio completamente democratico, onde todo e qualquer assunto pode rodar livremente. Acho que a censura é feia por muitos meios, tanto pelos robos da google (que eles rankeiam da maneira que bem entendem), pelas correçoes wiki, e principalmente pelos proprios usuarios, que, em geral, soh consomem o que é massificado. Creio que seja muito raro alguem buscar um conteudo de importancia significativa na internet, de ler coisas sobre politica ou qq assunto relevante. Em geral o que vemos (todos , digo nos, como massa ou um embriao de massa na internet) é o que todos vemos, tapa na pantera, sanduiche iche, correntes por email etc.
Eu tenho uma visão um pouco frankfurtiana pra isso, não acredito na democratização tão bonita da internet, não mesmo.
Pretendo fazer disso minha área de estudo, tanto na monografias das graduações quanto em um mestrado porvir.
Gostei muito do seu artigo, é sempre bom ver pontos de vista e debater, e acima de tudo gostei do seu sobrenome.