Web 2.0 e 3.0 subsidiam novas práticas museológicas

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Na década de 1980, os computadores pessoais despontavam como uma tecnologia que revolucionaria o modo do ser humano lidar com a informação. Se em um primeiro momento, o interesse dos museus pela tecnologia deu-se pelas possibilidades de preservação e recuperação documental, logo viria sua exploração como suporte para os simulacros do acervo, passíveis de manipulação pelo público.

Na década seguinte, o advento da web representaria, para muitos, uma oportunidade de ampliar o número de visitantes presenciais. A tímida ocupação online limitava os conteúdos dos sítios a informações básicas para que usuário visitasse o museu físico, como localização, horários e programação.

Como sabemos, nos últimos quatro anos uma série de tecnologias tem facilitado o uso e a apropriação da web pelas pessoas, caracterizando a sua segunda geração de serviços, a chamada web 2.0. Embora a questão tecnológica não esclareça isoladamente o fenômeno das diversas formas de uso e apropriação da internet pelos museus, seu papel no processo de desenvolvimento museológico na internet não é secundário.

Dentre as práticas emergentes utilizadas pelos museus online em países desenvolvidos destacam-se o podcasting, o tagging (classificação de conteúdo por usuários) e a estruturação semântica da informação (Web 3.0).

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Na filosofia web 1.0, foram agrupados o redesign de sítios orientados a manter uma presença online básica, ou seja, ter um endereço na internet, com informações sobre o museu físico, tratadas ou não de forma multimidiática.

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A geração de conteúdo é exclusiva do pessoal do museu, cabendo ao usuário, acessar as informações disponíveis, caracterizando uma estrutura ?top down? (de cima para baixo), hierarquicamente fechada. Não há nenhuma preocupação com a formação de comunidades virtuais ou outro tipo de interação social. São sítios orientados a transmitir informação aos usuários.

Sítios que procuraram se apropriar do ambiente virtual, e não apenas utilizar a internet como mais uma mídia para divulgação de informações institucionais, ocupam a categoria 2.0. São sítios que já passaram pelo primeiro nível descrito, e começam a aplicar a filosofia e as tecnologias web de segunda geração para realizar a missão do museu.

Estes sítios, pela forma como são projetados, procuram não só ampliar a experiência do visitante do museu físico, como oferecer uma experiência per si ao usuário da internet. São ambientes orientados à interação dos usuários entre si e com o pessoal do museu, no sítio institucional e/ou em outros sítios estratégicos, como blogs, Second Life, Flickr, Youtube etc.

Por último, a filosofia web 3.0 pode ser notada em sítios que levam em consideração a estruturação semântica da informação e a interoperabilidade, nome dado à habilidade de troca de serviços e dados entre sistemas distintos.

Estes projetos prevêem a reutilização da informação em várias mídias e formatos, realizando a visão do museu ubíquo, onde o que é produzido no domínio físico pode ser reutilizado na internet e vice-versa, reduzindo custos e facilitando a gestão da informação (GUTIEEREZ, 2007; BUCKLAND at al 2007; OSSENBRUGGEN et al, 2007). São sítios orientados ao reaproveitamento e recuperação dos dados e à personalização da experiência.

Se no início do surgimento da web, muitos temiam que o domínio virtual eclipsasse o museu físico, hoje se fala em um museu híbrido, reintegrado por uma variedade de técnicas e tecnologias. Mas o que dizer da situação dos museus brasileiros na internet? Falaremos disso no próximo artigo. [Webinsider]

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BUCKLAND, M., et al., Access to Heritage Resources Using What, Where, When, and Who. In: Museums and the Web 2007, 2007, San Francisco, California. Museums and the Web 2007: Proceedings. Toronto: Archives & Museum Informatics. Toronto, Canadá : Archives & Museum Informatics, 2007. Disponível aqui. Acessado em: 07/04/2007

GUTIERREZ, H. e HEIMBERG, J. Dallas Museum of Art Presents The ARts Network. . In: Museums and the Web 2007, 2007, San Francisco, California. Museums and the Web 2007: Proceedings. Toronto: Archives & Museum Informatics. Toronto, Canadá : Archives & Museum Informatics, 2007. Disponível aqui. Acessado em 10/04/2007.

OSSENBRUGGEN, J., et al. Searching and Annotating Virtual Heritage Collections with Semantic-Web Techniques. In: Museums and the Web 2007, 2007, San Francisco, California. Museums and the Web 2007: Proceedings. Toronto: Archives & Museum Informatics. Toronto, Canadá : Archives & Museum Informatics, 2007. Disponível aqui. Acessado em 13/05/2007.

Como citar este artigo:
ELER, Denise. Web 2.0 e 3.0 subsidiam novas práticas museológicas. 2008. Disponível aqui.

O artigo acima é parte da dissertação de mestrado intitulada Museus na Web ? mapeamento, potencialidades e tendências.

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<strong>Denise Eler</strong> (denise.eler arroba gmail.com) é pesquisadora na área da Cibercultura, mestre em Educação Tecnológica, especialista em Gestão Estratégica da Informação, designer e professora universitária.

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15 respostas

  1. Concordo, Rangel! Foi minha preocupação nesta dissertação: ser bem didática quantos às práticas museoloógicas emergentes na internet. Estou tentando viabilizar a publicação da pesquisa pelo Iphan. Seria muito útil aos dirigentes de museus.

  2. Denise, concordo com você que falta um conhecimento por parte dos museus sobre as possibilidades do uso das novas tecnologias de informação. Pelo contato que já tive com profissionais dos museus de São Paulo, sei que muitos ainda têm dificuldade de entender a diferença entre um site e um blog, por exemplo. Seria preciso uma maior divulgação de práticas bem-sucedidas no exterior sobre a utilização desses recursos para sua implantação começasse no Brasil.

    Quanto ao papel do museu, creio que ele precise se adaptar novos paradigmas de geração e difusão de conhecimento, abrir-se à interatividade e não esperar sentado que o usuário visite o museu, mas ir até onde o público está, como nos canais que você mencionou, Flickr, YouTube, Orkut, etc.

  3. Na década de 90, presença online era sinônimo de site institucional. Com a web 2.0, os pontos de contato de uma marca com seu público foi incrivelmente ampliados. Vocês falaram no SL, que tem sido uma opção viável lá fora. Os museus tem de buscar alternativas no ambiente online. Tem de ir até o usuário, mesmo que este nunca tenha interesse de fazer uma visita presencial ao Museu. Os museus são grandes especialistas em diversos assuntos. Tem reconhecimento da sociedade. Quantas vezes vocês procuraram sobre determinado assunto no Google e foi direcionado para um site de museu? Ou melhor, para um conteúdo produzido por um museu?

  4. Mas mesmo que tenham dinheiro, se não pensarem na web como recurso estratégico, nada vai mudar. Por exemplo, mesmo sem recursos, os museus poderiam usar o Youtube, o Flickr, o MySpace. Falta mais visão, cultura mesmo. Já perguntei várias vezes a dirigentes de museus:
    _ Se dinheiro não fosse problema, quais seriam as 5 áreas prioritárias de investimentos? Nunca ouvi internet. E mesmo quando pensam na internet, estão mais interessados em disponibilizar o acervo no formato digital. Então, falta cibercultura e falta repensar o papel social destas instituições. Afinal o se espera de um museus em pleno sec. XXI?

  5. Rosi, creio que para o Brasil, o Second Life exige um PC com poder de processamento gráfico fora do alcance da maioria dos brasileiros. Praticamente não há um PC de loja com placa de vídeo potente o bastante para o SL, a não ser que você queira gastar R$ 3 mil ou mais.

    Mas existem algumas iniciativas no Brasil voltadas para o SL, em especial o trabalho desenvolvido pelo Centro Cultural Bradesco no SL. Inclusive eu participei de um curso sobre obras do Masp ministrado lá.

    Fora do país há projetos mais consistentes envolvendo o SL. Uma boa dica é acompanhar o blog Museu 2.0, (http://museumtwo.blogspot.com/) que trata do museu no mundo da Internet e desenvolve um trabalho no SL, contando inclusive com um museu no metaverso onde são desenvolvidas atividades específicas para o meio.

    E Denise, concordo com tudo o que você disse, falta uma cultura tecnológica, e sobretudo uma cultura web 2.0, cujo alicerce é o compartilhamento da informação e participação das massas, justamente o contrário do modelo dominante nos museus. Diria ainda que falta dinheiro, a Pinacoteca, uma das principais instituições museológicas de São Paulo, até pouco tempo atrás não tinha nem um site web 1.0.

  6. Este problema é pertinente a todos os sites de museus que analisei: são orientados pelo modelo de divulgação científica que pressupõe o público como ignorante, e portanto, adota um modelo transmissionista, ao invés de interacionista. Mesmo quando o site tem um canal de CONTATO, este não funciona de fato. Mas esta não é uma característica do museu na web. Mesmo em visitar presenciais, na maioria das vezes, não há nenhum movimento do pessoal dos museus para saber a opinião de seu público a respeito do seu trabalho. É uma postura arrogante, ainda que possa não ser intencional. É necessário mudar as mentalidades e as novas formas de interação na web tem criado uma cultura de participação dos usuários na produção e julgamento de conteúdos que, espero, vai forçar instituições como os museus a mudarem de postura.

  7. Esse hibridismo que agrega diferentes possibilidades de interação baseadas no modelo 2.0, as trocas e discussões possíveis num ambiente onde se pode inserir opiniões, talvez seja o que falta, por exemplo, (e aqui não tenho certeza se ela se aplica no exeplo dos museus) em sites como o da Biblioteca Nacional, que agora conta com um acervo digital mas que não permite ao usuário um espaço; como precisei muito desse acervo há alguns meses, senti a necessidade de um ambiente digital pra dar meu feedback sobre o que consdegui e não consegui encontrar, já que o atendimento real sempre é falho.

  8. Oi, pessoas! Obrigada pelos feedbacks. O Second Life apareceu em apenas 3 artigos em 2007. Na minha opinião, falta cultura tecnológica para entender o potencial deste simulador para os museus. No Brasil, não é uma opção, já que não pegou por aqui.
    Quanto ao conceito do museus híbrido, Paulo, em 1971, Duncan Cameron, defendia a divisão em Fórum e Templo.As tecnologias da web 2.0 favorecem a criação de Museus Fórum, onde o mais importante é a troca, a interação pessoal, e não a interação com o acervo. Fica para outro artigo.

  9. Denise,
    Na verdade para quem vem acompanhando seu trabalho este artigo é um pequeno adentro de toda sua pesquisa.
    A questão que me passa é o seguinte: a filosofia das práticas museológicas mudaram pelo surgimento das novas tecnologias ou já se pensava num museu híbrido antes da era da internet?
    Quem sabe um outro artigo vc explica essa

    belo artigo,
    parabéns

  10. Ótimo artigo Denise,

    Realmente a web 1, 2 ou a esperada web 3.0 tem mudado muito a forma de interação das pessoas. A forma com que se relacionam, o marketing, a propaganda, e a ligação entre o físico e o virtual…

    Parabéns pelo texto,

    Abraços,

  11. Não fique surpresa por ver os podcasts liderando a lista de ferramentas utilizadas, mas achei que o Second Life teria um maior destaque. As possibilidades de recriar um ambiente em 3D são quase infinitas e podem ter um grande nível de detalhamento; a outra vantagem seria fornecer uma noção do espaço físico pro visitante que não pode ir pessoalmente.
    Museus que disponibilizam conteúdo na internet nos dão uma liberdade de conhece-los que não temos no museu físico: na maioria deles, os objetos/exposições são sempre bem protegidos, e as vezes não conseguimos analisar detalhes que poderiam ser disponibilizados na rede.

    Ótimo artigo, Denise! 🙂

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