Internet ainda é coisa de rico

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Todos os dias, pipocam pesquisas sobre a internet no Brasil. Em parte, síndrome de primo pobre que precisa esbanjar; em parte, complexo de filho do meio, entre o xodozinho da mamãe e o filho pródigo do papai.

É evidente que temos particularidades, que somos mais pujantes do que parecemos, que precisamos de muito esforço para enxergar através da nuvem de preconceitos mal assumidos que banham o país. No entanto é importante não perdermos a lucidez por trás da pílula dourada para gringo ver.

E toda pesquisa sobre internet no Brasil se utiliza do discurso favela-chic para iniciar suas presumidas quebras de paradigmas: a classe C constitui a massa de pessoas interneticamente incluídas. Também pudera. O Brasil é classe BC. Só falamos em classe AB porque não tem como juntar a A com nada já que ela é tão pequena que sumiria das nossas pesquisas. Criamos essa quimera de que existe uma classe AB que é diferente da classe C. No fundo existe uma classe BC, colossal, que é diferente da A. E a A não interessa a nenhum segmento econômico relevante.

Pois se é a classe C que interessa, é natural que a internet só possa existir se ela puder atingi-la. Nem se trata mais de um chiste no preconceito da elite porque essa tal classe é hipercool. Nem gringo paraquedista se impressiona mais com a imagem das favelas que cercam o condomínio de alto luxo.

Mas a verdade que carecemos enfrentar hoje, vencido o deslumbre, é que os maiores pontos de acesso à internet no país são fora de casa, porque é lá que a tal da classe C pode, consegue, tem grana, para acessar. E não se poderá falar de democratização de acesso à internet enquanto não conseguirmos vencer os pífios e estagnados 25% de acesso domiciliar.

O acesso fora de casa tem particularidades importantes, e uma das maiores é o tempo tarifado. Pessoas que acessam a internet fora de casa têm menos tempo ou o tempo delas custa (caro).

Quem já viu o comportamento típico de uma pessoa que acessa a internet numa lan-house entende: muitas janelas simultâneas e foco dividido. Ler, nem pensar, ver vídeos de mais de 10 minutos, nem pensar, pesquisar a fundo, nem pensar. Já que o tempo custa, melhor fazer o que instintivamente importa, ou seja, xavecar nas redes.

E mais, se correlacionarmos por exemplo a compra online com o local de acesso, iremos imediatamente verificar que as pessoas não compram na internet (ou muito pouco) fora de casa, por razões óbvias (tempo de comparação, receio da falta de segurança dos meios de pagamentos etc.).

É mais do que hora de pararmos com as excitações precoces: o Brasil é surpreendente mas estamos longe de ser um país digitalmente maduro. Muito longe. [Webinsider]

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Fernand Alphen (@Alphen) é publicitário. Mantém o Fernand Alphen's Blog.

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2 respostas

  1. É verdade. No Brasil a exclusão digital ainda é enorme. E mesmo na classe B, entre pessoas de nível superior, a exposição à internet não parece tão grande como alguns entusiastas da tecnologia acreditam. Neste caso, porque não querem. Vejo pelos meus amigos (advogados, psicólogos, professores, etc), que acessam e-mail uma vez por semana, nem sabem o que é twitter (têm orkut e msn no máximo) e não se fidelizam a sites e blogs. Claro que os meus amigos não são um universo tão abrangente de análise, mas para mim, isso é motivo de reflexão.
    Outra questão: o Brasil ainda está longe de ser um país de classe média. O aumento da classe C indica que houve diminuição da pobreza absoluta e da miséria. Os muitos empregos anunciados no país ainda são de até dois salários mínimos.

  2. com os computadores ainda com preços mínimos de mil reais, fica difícil popularizar a internet… se o preço de um computador não mudou, se o preço da assinatura de um plano de internet não mudou, só se o “pobre” deixar de ser “pobre” pra aumentar o índice… mas aí sai tbm da classe C xP

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