Piratear não é preciso

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Dizem que “de graça, até injeção na testa”. Se o remédio for um livro bom, essa injeção pode ser a melhor alternativa para expandir o consumo e melhorar a qualidade dos livros.

É que hoje, quem lê em inglês têm pela internet um serviço correspondente ao de uma fantástica biblioteca de bairro, completíssima, eficiente e atualizada.

A Amazon dos PDF

Esse manancial de informação e cultura – que é ilegal – é conhecido principalmente dentro de espaços acadêmicos, entre estudantes que não podem depender das bibliotecas de suas faculdades para ter acesso a livros.

Mas as facilidades oferecidas pelo ambiente digital ampliaram a variedade de títulos.

Hoje, qualquer livro em inglês razoavelmente conhecido e que foi disponibilizado nos últimos dez anos pode ser encontrado em sites como Libgen – uma espécie de “Amazon dos arquivos PDF” – e Pirate Bay. Individualmente ou em coleções de centenas ou milhares de títulos.

(A chegada da Amazon ao Brasil trazendo apenas livros digitais deve também contribuir para que mais livros em português, devidamente “crackeados”, circulem por esses canais.)

No lugar das bibliotecas

Se o caso da indústria fonográfica serve de exemplo, o esforço para evitar o compartilhamento de conteúdo proprietário é vão. A natureza do digital é se espalhar.

A injeção contínua de livros digitalizados na rede alimenta acervos pessoais que facilmente podem ser recirculados quando um ou outro site de distribuição sai do ar.

Muitos livros impressos desaparecem depois da primeira edição por perderem o apelo comercial. A pirataria, então, indica uma possibilidade de reaproveitamento dos catálogos das editoras.

Seria possível que empresas comprem os direitos de pacotes desses livros que desaparecem no limbo para disponibilizá-los como coleções patrocinadas? Apareceriam assim: “Biblioteca Vale do Rio Doce de Autores Contemporâneos”. Ou “Coleção Banco do Brasil de obras de Economia”.

A rede se torna oficialmente essa biblioteca que muitos não têm e não terão a oportunidade de ir.

Outro modelo de negócio

Quem é mais velho tende a analisar esse fenômeno atribuindo a ele a responsabilidade por uma possível desestabilização do mercado editorial. Mas a questão pode ser relativizada.

O “pirateamento” de um livro é também uma expressão do sucesso dessa obra. As pessoas tanto querem ler que ajudam – informalmente – a fazer sua distribuição.

Se o livro puder ser grátis como a TV aberta para financiar a curadoria do editor e o trabalho de revisores, designers, etc, a obra digitalizada e relevante terá um alcance muito maior via recomendações boca a boca por redes sociais, por exemplo.

O patrocinador / mecenas não paga impressão nem distribuição. E uma tiragem normal do impresso, que hoje é de três mil exemplares ou menos, pode se ampliar radicalmente com a migração para o digital.

Autopublicações

O mesmo meio digital que multiplica as opções de acesso a livros também facilita as possibilidades de produção de livros fora dos domínios tradicionais.

Livro publicado pode trazer prestígio, mas raramente compensa financeiramente o autor, que investe meses ou anos trabalhando. E se der para compartilhar o esforço e a recompensa?

Em 2009, eu levei 45 dias para reunir as participações para uma coletânea chamada Para Entender a Internet, publicada por mim mesmo.

Os coautores, além de escrever, ajudaram a promover o lançamento e em uma semana o número de downloads ultrapassou o número de exemplares impressos do meu primeiro livro, lançado dois anos antes e cuja edição não tinha ainda esgotado.

Balanço final

Há milhares de livros já disponíveis em espaços de compartilhamento informal na internet. Muitos desses livros nunca chegariam aos leitores, por falta de dinheiro ou de bibliotecas.

Isso é um prejuízo? É para a gente celebrar ou para lamentar que mais pessoas queiram ler?

Fico pensando se, contraintuitivamente à racionalidade comercial, a dita pirataria não pode gerar um efeito inesperado de ampliar o interesse pelos livros. E também de estimular empreendimentos criativos que “surfem essa onda”. [Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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