O mundo todo em um banco de informações

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket
O armazenamento e a pesquisa de informações é uma das tarefas mais importantes e úteis do computador na criação da inteligência artificial.

O computador é uma máquina capaz de calcular e realizar múltiplas tarefas. O armazenamento e a pesquisa de informações é uma das mais importantes e mais úteis na criação da inteligência artificial.

 

O computador foi originalmente inventado com um único objetivo: fazer cálculos com alta precisão de resultados, e ele o faz muito bem desde a sua origem. O nome desta máquina revela tudo: computador significa que ele é uma invenção feita para computar ou calcular, se quiserem.

Ao logo da sua trajetória, visionários se deram conta de que o computador jamais poderia ficar restrito a fazer cálculos. Um desses notórios e mais importantes visionários foi o matemático inglês Alan Turing, pai da inteligência artificial. Turing vislumbrou uma máquina universal, ou seja, capaz de realizar todo tipo de tarefa.

A forma antiga, e tradicional de armazenar dados foram os livros, importante avanço na divulgação de informações, que, entre outros efeitos, ajudou as pessoas a se educarem e se aperfeiçoarem nos seus respectivos campos de trabalho. Nas primeiras bibliotecas, os livros eram presos por correntes, de modo a impedir que eles fossem retirados de lá, e todos os leitores continuassem a tê-los disponíveis para consulta.

O arquivamento de informações, na forma de um catálogo ou de um fichário sempre foi a base moderna de se guardar dados, que poderiam ser consultados a qualquer momento. O conceito de “arquivo” foi literalmente transposto aos computadores, quando informações de uma dada natureza são “salvas” em um dispositivo. E como qualquer arquivo ele pode ser aberto e fechado a qualquer momento.

O banco de dados

Os aplicativos que possibilitam criar e gerenciar informações de forma eletrônica suplantaram e dinamizaram a busca manual de dados nos fichários e arquivos. Os programas de gerenciamento de bancos de dados foram escritos com este objetivo. No gerenciamento, se pode criar um arquivo, inserir informações, editar o conteúdo, salvar, e depois pesquisar os dados de interesse.

O termo em inglês “Database” foi adaptado no nosso meio como “Banco de Dados” ou “Base de Dados”, em uma tradução mais literal. No advento da microinformática, o aparecimento dos sistemas operacionais de disco tornou a criação de bancos de dados e a pesquisa resultante uma tarefa muito mais fácil e dinâmica.

Os primeiros bancos de dados foram historicamente criados na década de 1960, e começaram a ter expressão na década seguinte. A partir daí os designs de gerenciamento de informações começaram a dar frutos na construção e na pesquisa dos bancos de dados.

E a partir da microinformática e do computador pessoal, os sistemas de gerenciamento de bancos de dados passaram a estar ao alcance de todo mundo. Depois da criação do CP/M, apareceram sistemas bastante sofisticados, um deles, para mim, de grata memória, foi o dBase, da Ashton-Tate. Em 1981, foi lançado o dBase II, que na versão dBase II Plus, se estabeleceu como referência nos anos seguintes.

Os micros MSX de 8 bits e similares rodando dBase II em CP/M

O dBase II Plus para MSX-DOS foi tema de um dos livros escritos por mim e pelo meu irmão, lançado em 1988 pela então Editora Ciência Moderna. O livro se esgotou mais rápido do que nós dois imaginávamos, e acabou tendo uma segunda edição.

O meu irmão era profissional na área de mainframes e se iniciou em microinformática bem antes de mim, quando então ele falava muito sobre bancos de dados e a sua importância no gerenciamento de empresas ou pequenos negócios. Na época daquele nosso livro, eu havia enfrentado todo o tipo de dificuldade para aprender a usar o meu computador MSX, passava noites em claro tentando me livrar da burrice. Mas, a minha experiência docente já havia me alertado sobre o óbvio: no seu início, o microcomputador era uma autêntica caixa preta, quase inexpugnável para os neófitos como eu. E grande parte dos livros eram tudo menos didáticos!

E depois que eu ponderei isso, eu convenci o meu irmão de que o aprendizado de algo complexo é possível, desde que termos e conceitos sejam explicados antes de entrar no assunto propriamente dito. E foi por causa disso que o meu irmão acrescentou no título do livro a expressão “Sem Mistérios”. A expressão foi depois usada pela própria Ciência Moderna, no lançamento de outros livros.

O dBase para o CP/M eu vi ser usado para a criação de sistemas de gerenciamento de diversos tipos, como, por exemplo, controle de estoque, serviços administrativos, etc., como o meu irmão havia me dito. Na versão para MS-DOS, o dBase ficou cada vez mais sofisticado, incluindo um aperfeiçoamento da sua linguagem de programação.

Na Europa, quando eu estive lá a estudos, os computadores de 8 bits haviam desaparecido do mercado. Alguém na época me mandou uma cópia (coisa muito comum entre usuários naqueles dias) do dBase IV para MS-DOS. Eu vinha enfrentando um problema sério, que era ir catar referências bibliográficas nas bibliotecas, e tirar uma fotocópia para depois estudar em casa, porque, a partir de um certo momento, eu já não sabia mais se já tinha copiado algum referência ou não e, de fato, aconteceu de eu ter copiado a mesma referência duas vezes. Era preciso dar um basta nisso!

A solução para este transtorno foi a criação de um programa em linguagem dBase IV. Com ele, eu podia pesquisar se uma dada referência já tinha sido fotocopiada. E, mais importante ainda, no final exportar todas as referências de interesse para um arquivo de texto, no formato onde elas seriam acrescentadas às referências do manuscrito sendo redigido.

Na figura abaixo, se pode ver um pedaço do banco de dados das minhas referências, com os campos descritos (autor, título, etc.) exibidos na parte de cima:

A linguagem do dBase IV para o MS-DOS era razoavelmente simples de escrever, mas exigia a presença do aplicativo para rodar, caso o programa não fosse compilado. Com o advento do Windows 3, no início da década de 1990, o dBase IV continuou a rodar normalmente, mas depois do meu trabalho que durou 4 anos ser concluído, eu nunca mais o usei, porque aplicativos específicos para este tipo de trabalho já tinham sido lançados, ou seja, o dBase IV foi muito útil enquanto durou.

O escopo do conceito do banco de dados

A presença do CD-ROM na microinformática foi um dos primeiros grandes avanços nas pesquisas de dados. No passado não muito distante, eu li muito, mas com dificuldade, os enormes catálogos do Medline, em uma busca estafante de referências bibliográficas. O Medline em CD-ROM substituiu, em único disco, o conteúdo dos 12 livros de cada ano. Assim, bastava pedir o disco do ano desejado e a pesquisa era imediata!

Programas como Encarta, Cinemagia, em CD-ROM, fizeram muito sucesso por anos a fio. Mas, com a entrada da Internet no acesso acadêmico fácil, o CD-ROM ficou obsoleto em pouco tempo. No seu lugar, vieram os servidores capazes de armazenar milhares de informações, extrapolando assim a abrangência de muitos discos.

A informação como segredo do conhecimento

Se existe alguma coisa útil na criação das redes de computadores é justamente o acesso à, ou troca de, informações. E hoje, com a entrada em operação da computação na nuvem, este acesso ficou ainda mais sofisticado!

Muitas pessoas já nascem com um cérebro privilegiado, e são chamadas pelos outros de “inteligentes”, ou por adjetivos similares. Mas, absolutamente ninguém pode excluir do seu aprendizado a pesquisa sobre informações do assunto que se deseja dominar, e por um motivo muito simples: a coleta de informações se sucede durante anos, às vezes décadas, e é este acúmulo de descobertas e observações que serão eventualmente úteis a quem estuda. Caso contrário, seria preciso, como diz o dito popular, “reinventar a roda”!

Uma das coisas que eu aprendi na minha profissão é que é preciso ler muito quando se estuda alguma coisa. No campo científico, cada trabalho publicado é escrito pelo ângulo de visão de quem pesquisa. Lendo o mesmo assunto, escrito por outros autores, os ângulos de visão são naturalmente distintos. Assim, a leitura desses trabalhos permite ter uma ideia bem mais abrangente do assunto em tela, e quem lê pode depois tirar suas próprias conclusões.

Nada disso é diferente do que eu venho observando em alguns aplicativos recentes. No Copilot da Microsoft, por exemplo, a cada pergunta feita aparecem na tela informações de várias fontes, e assim quem pergunta pode então escolher o que deseja ler:

O futuro da pesquisa de informações certamente irá coincidir com os algoritmos de inteligência artificial. Mas, o usuário esperto que se precavenha: não adianta copiar dados sem saber o que eles significam, pois, se assim o fizer, o aprendizado das coisas não se realizará, e a busca de informações será inútil.  [Webinsider]

. . .

 

O Jogo Da Imitação e a vida de Alan Turing

Gary Kildall, pioneiro esquecido dos sistemas operacionais de disco

Uma escola de informática, no amadorismo dos micros de 8 bits

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *