Casablanca, um clássico improvável

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Casablanca, clássico do cinema, reuniu equipe e atores que saíram da Europa à procura de refúgio. Assista aqui em UHD.

Casablanca, clássico do cinema, reuniu equipe e atores que saíram da Europa à procura de refúgio. Assista aqui em UHD.

 

Qualquer cinéfilo que se preze encontra em Casablanca, lançado em 1942 pela Warner Brothers, um filme imperdível. Entretanto, quando a peça de teatro “Everybody Comes to Rick’s” foi oferecida para a Warner, o estúdio ficou próximo de não aceita-la. Quem acabou assumindo o projeto foi o produtor Hal B. Wallis ao comprar os direitos para filmagem. A peça nunca foi encenada, e a produção de cinema enfrentou todo o tipo de problemas no set de filmagem, quer dizer, tinha tudo para dar errado, mas o resultado foi exatamente o oposto.

A persona do ator Humphrey Bogart e a beleza expressiva e fotogênica de Ingrid Bergman deram o tom que a estória precisava para ter uma enorme receptividade por parte do público. Por coincidência, uma parte do elenco foi composta por vários atores saídos da Europa, fugindo dos horrores do regime nazista.

O ator alemão Conrad Veidt, por exemplo, se opunha aos nazistas, e quando se casou com uma mulher judia saiu da Alemanha para a Inglaterra, que lhe concedeu a cidadania como exilado político.

O nazismo provocou a saída de atores e cineastas, judeus ou não, para principalmente Hollywood, onde trabalharam e continuaram suas carreiras. A peça de teatro foi modificada e recebeu um novo título: “Casablanca”, cidade que supostamente iria servir de porto seguro, na fuga da Alemanha para o exílio em outros países, via Lisboa.

O drama envolve o personagem Rick Blaine, um americano cínico, vindo de Paris ocupada pelos nazistas, saindo de lá depois de uma decepção amorosa. Seu grande amor, Ilsa Lund (Ingrid Bergman), era casada com Victor Laszlo, considerado desaparecido e possivelmente assassinado em campo de concentração nazista. Mas, Rick nunca soube disso, e quando propôs a Ilsa fugir de Paris, para viverem juntos em outro lugar, ela o abandona sem maiores explicações.

O filme que seria “classe B”

Poderia ter sido uma mera coincidência, mas o tema da peça e o elenco se encontram no fato acima citado, de que vários atores e o compositor da trilha sonora procuraram cidadania fora de seus países de origem. Casablanca trata da condição de penúria de cidadãos à procura de exílio, mas esbarrando na falta de dinheiro para conseguir sair de lá com um visto seguro, debaixo do jugo do chefe de polícia local.

Cinematograficamente, a direção do húngaro Michael Curtiz é próxima da perfeição. O posicionamento da câmera, aliada a uma iluminação de cenário inspirada, dão a atmosfera necessária para tornar a estória entre Rick e Ilsa em um melodrama de credibilidade. Todas as tomadas, particularmente os da beleza natural da atriz Ingrid Bergman, favorecem o lado lúdico da estória. Zonas de sombra nessas tomadas têm alta expressividade visual, realçando cada cena filmada.

Além disso, o elenco é de primeira linha, e todos contribuem para a totalidade do tom dramático, ao mesmo tempo romântico, do filme.

Várias falas nos diálogos ficaram para sempre como referência para o cinema e para cinéfilos. Por exemplo “Here’s looking at you kid”, ou “Play it Sam, (play As time goes by)”, ou ainda “Of all the gin joints in all the towns, in all the world, she walks into mine”. Outra frase de efeito foi a do final do filme: “Louis, this is the beginning of a beautiful friendship”, parodiada até em desenho animado da própria Warner.

A música As Time Goes By ficou famosa por causa do filme, mas ela foi composta uma década antes do filme ser rodado. Inicialmente, não houve consenso na inclusão da música na trilha sonora. Max Steiner, o compositor da trilha, não a queria e objetou a sua inclusão. Mas, o produtor Hal B. Wallis insistiu na sua inclusão, e então, para sorte dos fãs, a música foi tema brilhante e recorrente da trilha sonora nos seus momentos mais dramáticos, uma espécie de leitmotif.

Casablanca era para ser lançado em 1943, mas a entrada dos americanos na segunda guerra mundial fez a Warner capitalizar o seu lançamento um ano antes.

Uma obra de mais de 80 anos de existência, realizada em um momento crítico e de grande tensão mundial, Casablanca bem poderia ter sido apenas mais um filme saído da fábrica de produções originária do studio system. Aparentemente, Michael Curtiz enxergou no projeto uma oportunidade de mostrar a sua capacidade narrativa visual, e os atores entenderam a essência da mensagem da estória, que é a do refúgio dos oprimidos e da luta pela liberdade. O filme deu certo, por todos esses motivos, e talvez por muitos outros mais.

Lançamento em Blu-Ray

Normalmente, a fotografia em preto-e-branco pouco influencia na resolução da imagem na transcrição do filme para vídeo, devido à ausência do sinal de crominância. Mesmo assim, a imagem do Blu-Ray 2K, sobre a qual eu posso opinar, é de qualidade muito superior ao DVD.

Atualmente, o filme está disponível em UHD, para quem se interessar:

Existem vários depoimentos e documentários contando como Casablanca foi feito, entre eles o da própria Warner Brothers:

Casablanca já foi estudado por fãs e scholars. Ao estudar cinema, este é um dos filmes que o estudante deve assistir e analisar com cuidado, principalmente por se tratar de um filme feito em um contexto frequentemente imposto a diretores e atores, retirando-lhes a liberdade criativa, essencial para a elaboração de qualquer obra artística. Filmes desse tipo acabaram por driblar o studio system e receber a devida acolhida dos fãs de cinema. [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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